DESALENTO
Tão grande, tão intenso, tão profundo… o sentimento de angústia que me invadiu por completo. Começou, sei lá quando, muito insidiosamente, a transtornar uma parte das minhas reacções afectivas. A intromissão não foi aoesar disso sub-reptícia, foi bem notada pois eu, desde que comecei a conhecer-me, acho que sempre estive atento ao que me afectava os sentimentos primários, mas isso, parece que acabou por não servir de nada.
Deixei-me ficar, a ver, a ver-me, como um espectador atento, aflito, mas incapaz de interferir no desenrolar do drama, impotente para prestar qualquer ajuda ao personagem principal do filme, durante o imparável deslizamento deste em direcção ao abismo da solidão. E quando o nosso herói, atinge o limite do peso que lhe é possível suportar em consciência, acelera vertiginosamente o salto para o mergulho na depressão profunda e arrasta-me inexoravelmente com ele.
Agora, vou debater-me contra as correntes desencontradas dos rios que fluem incessantes na profundidade do meu subconsciente - vai ser muito complicado não naufragar, afundar-me por completo na mistura de águas frescas, lamas, lodo, gelo, cinzas e lava, que compõem aquela espécie de gelatina que preenche todos os meus estados de espírito.
Mais uma vez, penso que, apesar de tudo vou conseguir – ainda tenho vontade disso - vir ao de cima. Só espero não demorar muito, pois cada vez, tenho menos fôlego. Não levo botija de oxigénio, levo só um balãozinho com uma restiazinha de esperança – não é muita, mas sinto que é quanto basta.