sexta-feira, outubro 31, 2008

a Fonte 294


E cá vamos nós, amigos, com todo o prazer, deambulando pelas paisagens alentejanas.
Ao passar no Alandroal (terra de muitos "alandros", seja lá o que isso for) encontramos Luís de Camões:

Na mesma guerra vê, que presas ganha
Est´outro capitão de pouca gente;
Comendadores vence e o gado apanha.
Que levam roubado ousadamente
Outra vez vê que a lança em sangue banha
Deste só por livrar c´o amor ardente
O preso amigo, preso por leal
Pêro Rodrigues é do Landroal!!!

(Canto Oitavo de "Os Lusíadas")

a ver navios 41


Janela do Forte de Caxias
Que vigia a barra do Tejo.
Aqui desfilam todos os dias
Grandes navios em cortejo.

Aqui estou eu meus senhores
A ver passar nesta janela
Os navios de contentores
Que farão Lisboa mais bela.

Dizem que são trezentos mil,
E vão passar para um milhão.
Mas a esta proposta tão vil,
O povo de Lisboa diz: NÃO!

quinta-feira, outubro 30, 2008

a Fonte 293


(Fonte erguida sobre anterior construção Romana, Torrão do Alentejo)
Bocacio Lusitano

En la empreza amorosa
De bella humana Diosa
Te constituye el hado Soberano
Alson de acorde Lyra
Adonde siempre en vano
Tu coraçon suspira
Viviendo de vanissimos amores
Moriste de dexarlos com dolores.
O´Bernardin feliz! Feliz tu suerte
Que un morir largo te atajo la muerte.


(dedicado a Bernardim, por Manoel de Faria e Sousa, poeta seiscentista)

Suspiros de Bernardim


«Bernardim, depois de ter estudado Jurisprudencia em que sahio insigne, cultivou a Poetica com tanto applauso do seu nome, que mereceo as estimaçoens do Princepe desta divina Arte o divino Camoens chamando-lhe o seu Enio, sendo o primeiro que em toda Espanha compoz Sextinas em Redondilhas, e as Elegias em versos menores.

Arrebatado de impulsos amorosos passava muitas noutes entre a espessura, e solidaõ dos bosques explicando junto à corrente das aguas com suspiros, e lagrimas a vehemencia de paixaõ taõ violenta que o obrigou a emprender impossiveis dedicando os seus affectos à Infanta D. Beatriz filha do Serenissimo Rey D. Manoel.»

Certa noite, numa das minhas viagens de solitário, passei pelo Torrão e parei por uns momentos, aqui ao pé da ponte onde se encontra esta Capelinha e uma Fonte. Talvez quisesse escutar os murmúrios e suspiros de paixão, das cantigas de engate, do Bernardim, aqui à beira do rio da sua terra natal.

Mas não consegui ouvir mais nada senão o enorme fragor das águas do Xarrama a embater e a galgar os grandes rochedos polidos que ocupam todo o leito do rio no declive até junto à curva da ponte. Sozinho ali, no escuro, não fiquei muito tempo, pois confesso que era um bocado assustador o ressoar daquelas águas que eu não conseguia ver. Levava muita força a enxurrada, resultado de muita chuva na véspera.

quarta-feira, outubro 29, 2008

a Fonte 292


Não pensem que acabou...
Mais outra fonte foleira,
Que a objectiva captou.
Chama-se Fonte da Eira.

Penso Rapido (6)



«Há um caminho para a felicidade:
não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade.»

(Ou, "não nos apoquentarmos com aquilo que está fora do nosso alcane", é o que dizem os escritos de filósofos helénicos como Epictetus e Epicuro e também a "Fábula da Raposa e as Uvas", de La Fontaine.)

Ora, foi com base neste princípio, que eu meti a viola no saco.
Quando digo isto, é mesmo verdade, não se trata de uma figura de estilo para estender o texto. Sim, definitivamente, arrumei o instrumento e pus de lado a intenção de aprender a tocar viola. Ao cabo de uns quantos meses de tentativas de autodidacta, fui-me sentindo cada vez mais frustado - já não tenho dúvida, sou incapaz.
Pois claro, se burro velho não aprende línguas, como é que vai aprender música?
Que se lixe, fico-me por aqui, contento-me em dar música ao pessoal, no Blog!

terça-feira, outubro 28, 2008

a Fonte 291


Excertos de um artigo de jornal publicado em 1983.

«Treze aldeias compõem a segunda freguesia mais rica do País - Almargem do Bispo.
As aldeias acordam de madrugada, para mugido o gado e colher da terra feteira os legumes que abastecem os mercados de Lisboa.
As hortaliças compram-se directamente nas hortas. Nos lugares, ainda se pratica o sistema de permuta de géneros - duas couves podem valer um litro de leite ou meio quilo de açúcar, por exemplo - numa exortação do passado que os saloios não querem esquecer totalmente.
Os queijos de cabra, feitos pelas mulheres segundo receitas antigas, vendem-se nos comércios locais, espécie de bazares onde há de tudo, desde botões a peças de tecido, de lixívia a adubos, aspirinas a xaropes...
Mas nem tudo são flores (embora existam plantados de violetas, margaridas e esquecidas...) no mundo dos saloios.
A falta de água canalizada é a carência principal. No seu quotidiano cada vez mais automatizado os pequenos lavradores sem um plano de rega comum, cada um deles vai fazendo os seus furos, onde melhor entende, razão porque nesta freguesia, o vedor é ainda uma profissão necessária.
Destes furos sai a água para as regas, enquanto que a de beber e cozinhar jorra dos mais de cem chafarizes existentes. Cada terra capricha na ornamentação da sua fonte que é uma espécie de "sala de visitas" pública onde as mulheres, enquanto as bilhas enchem, desenferrujam a língua.»
Pois é, mais de cem...
Só na Aldeia de "Covas do Ferro", se encontram, ainda em bom estado de conservação, meia-dúzia destas primitivas "salas de desenferrujamento" - talvez advenha daí a toponímia do lugar.

a ver navios 40


Está previsto, alargar o terminal de carga e descarga de contentores de Alcântara, em Lisboa.
O que o Governo, a APL (Admin. Porto de Lisboa) e a Mota & Engil (do Sr. Coelho) se propõem fazer, é erguer aqui uma parede de contentores, com muitos metros de altura - uma espécie de "Muro da Pouca-vergonha", que irá anular completamente toda e qualquer hipótese de avistar o rio, ou a outra banda.

Isso significa que o pessoal vai deixar de poder andar ali pela beira Tejo, a ver navios.
Que a "Lisboa vista do Tejo" vai ficar com 2 kms a menos, de vista.
Os próprios navios porta-contentores vão ficar fora da vista.
E os grandes navios Transatlânticos que costumam acostar nas Gares Marítimas da Rocha e de Alcântara - toda a gente gosta de admirar esses imponentes "paquetes" o mais de perto possível, assim, nem de perto nem de longe... impossível.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Rodas do Vento


Vou utilisar as Rodas do Vento para dar ar às Rodas do Tempo
e deste modo desanuviar um bocadinho o ar deste Blog, que ficou empestado com o vómito induzido pela publicação do "post" antecedente.
Ora deixa-me cá arejar esta coisa, com outra imagem de Almargem, que reponha níveis do bom gosto.

Felizmente, os fontanários públicos desgostosos, não são apanágio de Almargem - infelizmente, eles encontram-se disseminados por outras Freguesias, e não só deste Concelho.
Alem disso, há muito mais fontes na freguesia que não são feiosas (ia escrever horríveis, mas não devo, porque na verdade é apenas questão de gosto) - pelo menos uma das já publicadas aqui tem até um bonito painel temático em azulejo.

a Fonte 290

VER MAIOR
Em Almargem do Bispo,
uma relíquia da arquitectura civil, obra de "arte moderna e contemporânea", digna da Colecção "Berardo".

Não sei bem porquê, mas há qualquer coisa, que me me leva a pensar que o fontanário não teria este aspecto aquando da sua inauguração, em 1957. Acho que ainda não era habitual, naquele tempo, forrar as obras públicas com "azulejos de casa-de-banho".

Estou em crer, é apenas uma suposição, que a fonte terá sido alvo de uma recuperação, algures nos anos 70 , talvez com o patrocínio de um benemérito vizinho, empresário da construção civil.

domingo, outubro 26, 2008

Imaginem


Pois, pois, imaginem lá qualquer coisita, se faz favor, porque a mim não me apetece!

Como, não me apetece..?
Imaginar, não é uma questão de vontade - ou se tem ou não - parece que é coisa que já nasce com a gente. É uma coisa inata.
No caso dos artistas, podemos considerar um atributo congénito, como sucede com algumas doenças.
Quem a tem, pode, quando muito treinar, encontrar os estímulos certos que favorecem esta actividade criativa, exclusiva do bicho homem.
Bom, mais logo, vou ver se consigo soltar a imaginação... para dizer alguma coisa sobre, ou acerca, ou em redor desta flor, portanto, uns floreados.
Isto, só para evitar pôr aqui uma daquelas "fontes pirosas" que tenho preparada - fica para amnhã, porque hoje é Domingo e está um belo dia de sol.

sábado, outubro 25, 2008

Amanhecer CXLI


Claro dia
Sol aberto
Céu limpo
sem núvem
nem neblina
da madrugada
Ar fresco
Cheiro da terra
humidade
Aroma de erva
molhada
Água fresca
Reflexos
Silêncio

Composição de Ensaio - I

Nasceu o claro dia. O Sol aberto no Céu limpo, sem sombra de núvem, nem uma réstia da neblina da madrugada no ar ainda fresco. O cheiro da terra húmida à mistura com o aroma da erva molhada pelos salpicos da água que escorre nas bicas da fonte para o tanque de rega... os reflexos cristalinos na agitação da superfície da água; o silêncio perturbado pelo ininterrupto som irregular (cuja onomatopeia não me lembro) da água a cair de alto sobre a superfície da água e o fundo sonoro do rumorejar da água que desliza nos córregos do jardim... só ouvindo, só vendo, só cheirando, imaginando não chega.

sexta-feira, outubro 24, 2008

a Fonte 289


À entrada (ou saída) da aldeia de "Covas do Ferro"
(freguesia de Almargem do Bispo)

Eu tenho algum receio de melindrar os genuínos sentimentos bairristas dos habitantes desses lugares, por isso digo que este é apenas mais um fontanário dos muitos que existem por todo o Concelho de Sintra.
Alguns, na verdade, se poderiam classificar como sendo um bocadinho pirosos, foleiros ou mal enjorcados - isso depende do ponta de vista estético do apreciador - mas uma coisa é certa, eles servem muito bem a função para que foram construídos muitas vezes graças aos esforços e boa vontade de pessoas simples do lugar.
Aqui mesmo, neste sítio, lembro-me bem de já ter parado por duas vezes, lavar as mãos e beber água.

Penso Rapido (5)



PARA FICAR MAIS RICO

Não te preocupes em aumentar os teus bens,
mas sim em diminuir a tua cobiça.

(Epicuro)

Não sabia que isto era uma ideia fundamental dos Epicuristas. Esta verdade é uma realidade que faz parte da minha filosofia de vida, desde há alguns anos.
Para os que me rodeiam, esta minha maneira de ser e de estar, é um defeito, uma falha na personalidade - demonstro uma grandecíssima falta de ambição na vida - já não quero ser, nem parecer, importante(*).
Mas, na verdade, trata-se de um princípio de sobrevivência, básico que funciona assim: «quanto menos elevados objectivos me propuser alcançar na sociedade de consumo, menos probabilidades tenho de sentir a frustração - logo a infelicidade - de não os conseguir alcançar.»

Acho que este sentimento interior, pode contribui muitíssimo para a felicidade individual e colectiva.

Ora vejamos:

«eu podia ter uma BMW à porta de casa para inveja dos vizinhos, mas prefiro viajar despreocupadamente numa SKODA, livre do incómodo pesadelo das prestações de um empréstimo bancário.»

«Se houvesse mais pessoas a pensar assim, e por isso, a pautar as suas atitudes na vida diária em concordância com este simples princípio, tenho a certeza que seriam reduzidos em 9o% os problemas do sobreendividamento e crédito mal-parado que actualmente afectam um elevado número de famílias na nossa "avançada" sociedade de consumo.»

(*)
Excepção - quero continuar a ser "importante" para os meus filhos e já agora, também para a mulher de quem eu gosto, e ainda, porque não, também para os meus amigos.

quinta-feira, outubro 23, 2008

a ver navios 39


14
Pouca tardança faz Lieu irado
Na vista destas cousas, mas entrando
Nos paços de Neptuno, que, avisado
Da vinda sua, o estava já aguardando,
Às portas o recebe, acompanhado
Das Ninfas, que se estão maravilhando
De ver que, cometendo tal caminho,
Entre no reino da água o Rei do vinho.
..
20
Vinha o padre Oceano, acompanhado
Dos filhos e das filhas que gerara;
Vem Nereu, que com Dóris foi casado,
Que todo o mar de Ninfas povoara.
O profeta Proteu, deixando o gado
Marítimo pacer pela água amara,
Ali veio também, mas já sabia
O que o padre Lieu no mar queria.
21
Vinha por outra parte a linda esposa
De Neptuno, de Celo e Vesta filha,
Grave e leda no gesto, e tão fermosa,
Que se amansava o mar, de maravilha.
Vestida hüa camisa preciosa
Trazia, de delgada beatilha,
Que o corpo cristalino deixa ver-se,
Que tanto bem não é pera esconder-se.


(Luis Vaz de Camões)

Agora, ao ler e reler estrofes como estas (Canto VI - "O Concílio no Reino de Neptuno para tramar os Argonautas Portugueses") fico extasiado - a epopeia dos Lusíadas é, sem qualquer dúvida, uma obra admirável.
Como é diferente esta minha leitura e apreciação(*) daquela outra que fiz na minha "Prova Oral" de Português do 5º Ano (antigo) Liceal - a
horrível tortura a que fui
sujeito
no Liceu Pedro Nunes, há... sei lá quantas décadas.

(*)
Também é preciso dizer que, hoje NINGUÉM ME OBRIGOU a dividir o texto em "orações", identificar o "sujeito", o "predicado", o "complemento directo" e etc. etc. Mesmo que quisesse já não o conseguia fazer - por isso, deixo essa tarefa a cargo de pessoal mais competente, como os inspectores da PJ.

quarta-feira, outubro 22, 2008

a Fonte 288


Aldeia de "Pai Joanes" (Loures)

Um grupo de casas e algumas quintas anichadas na vertente norte da Serra de Montemor, entre Pinheiro de Loures e Caneças, a meio caminho da subida (ou da descida, que por sinal é mais bonita, mas cuidado para não fixar muito a vista na paisagem) de uma via pouco utilizada.

Voltas do Vento



Hoje faço trovas ao vento,
Que levanta o pó do caminho.
É o mesmo ar em movimento,
Que faz girar o moinho.

O que produz electricidade,
E o que tira água ao poço.
Uma para iluminar a cidade;
Outra para regar o tremoço.

terça-feira, outubro 21, 2008

a Fonte 287


"Pátio dos Bichos", (Belém)

O dono desta, é bem conhecido dos portugueses:

É o Sr. Silva, o mais recente inquilino do Palácio cor-de-rosa de Belém. Ele e a sua Maria, mudaram-se para aqui há cerca de dois anos.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Momentos (1)


DESALENTO

Tão grande, tão intenso, tão profundo… o sentimento de angústia que me invadiu por completo. Começou, sei lá quando, muito insidiosamente, a transtornar uma parte das minhas reacções afectivas. A intromissão não foi aoesar disso sub-reptícia, foi bem notada pois eu, desde que comecei a conhecer-me, acho que sempre estive atento ao que me afectava os sentimentos primários, mas isso, parece que acabou por não servir de nada.

Deixei-me ficar, a ver, a ver-me, como um espectador atento, aflito, mas incapaz de interferir no desenrolar do drama, impotente para prestar qualquer ajuda ao personagem principal do filme, durante o imparável deslizamento deste em direcção ao abismo da solidão. E quando o nosso herói, atinge o limite do peso que lhe é possível suportar em consciência, acelera vertiginosamente o salto para o mergulho na depressão profunda e arrasta-me inexoravelmente com ele.

Agora, vou debater-me contra as correntes desencontradas dos rios que fluem incessantes na profundidade do meu subconsciente - vai ser muito complicado não naufragar, afundar-me por completo na mistura de águas frescas, lamas, lodo, gelo, cinzas e lava, que compõem aquela espécie de gelatina que preenche todos os meus estados de espírito.
Mais uma vez, penso que, apesar de tudo vou conseguir – ainda tenho vontade disso - vir ao de cima. Só espero não demorar muito, pois cada vez, tenho menos fôlego. Não levo botija de oxigénio, levo só um balãozinho com uma restiazinha de esperança – não é muita, mas sinto que é quanto basta.

Penso Rapido (4)

AMPLIAR
«O Homem vive perturbado, não pelas coisas que acontecem,
mas pela sua opinião sobre as coisas que acontecem.»

(Há mais de 2.000 anos o filófofo Epictetus chegou a esta conclusão)

domingo, outubro 19, 2008

sábado, outubro 18, 2008

Porta em Alfama


Hoje apanhei um "rebanho de camones" entupindo o estreito caminho, pasmados em frente a esta porta, da Calçadinha de Santo Estêvão - tive que esperar para passar e ouvi:
«Die Leute, sind wir!»
Traduziu a guia para os camones alemães.
«Ahhhhhhh!»
Que espanto, eles não sabiam!

Amanhecer CXL


Hoje, para variar, em Lisboa - mais exactamente na "Feira-da-Ladra".

Passei por lá esta manhã, "armadao em Fotociclista" mas não comprei nem vendi nada. Ainda houve um "camone" que ofereceu 140€ pela minha bicicleta, mas eu não vendi - ela custou-me apenas metade disso - não tive lata para enganar o gajo.

sexta-feira, outubro 17, 2008

a Fonte 285



Hoje estive de novo em "A-dos-Cãos".
Adoro descer (em roda livre) a estrada que meandra aquele extenso e reclinado vale escavado pela ribeira (esqueci o nome), que vem desde lá do alto de Almargem do Bispo, até à várzea de Loures.

Aqui há tempos, colei aqui indevidamente uma fonte de "A-dos-Calvos" - felizmente alguém atento, corrigiu. Por causa disso, fui procurar, propositadamente as fontes de "A-dos-Cãos" e encontrei duas:
a de Santo Amaro, fica junto ao antigo lavadouro, na margem da ribeira, vizinha de uma Capela, que não sei como se chama, nem quando foi feita, mas parece muito antiga - quinhentista?
Nota:
como não podia deixar de ser, lá está o TRADICIONAL AVISO - "ÁGUA IMPRÓPRIA PARA CONSUMO".
Porra!!!! Agora, pergunto Eu, porque é que não se acaba de uma vez por todas com a merda das Fontes que não servem para nada? Se a água não presta para beber, então é preferível não haver fontes e deste modo reduzir as probabilidades de alguém, menos avisado, apanhar uma gastro-enterite (ou coisa pior) por matar a sede com água imprópria...

a ver navios 37


Vai para longe, pelo mar aberto,
Sempre com uma rota definida.
Não leva, como eu, rumo incerto,
Na difícil travessia desta vida!

(Poeminha, Lisboa 2008)

quinta-feira, outubro 16, 2008

a Partilha



Hoje é quinta-feira, aquele terrível dia da semana em que é costume eu ser perseguido por catadupas de pensamentos profundos, mais ainda que o normal dos outros dias.
No meio destas lucubrações metafísicas e filosófico-sociais, passou-me pela ideia a seguinte extrospecção que, em dado momento, aflige um personagem do "Código d'Avintes"(*).
«Se é triste não termos ninguém com quem desabafar mágoas, mais triste ainda é não termos ninguém com quem partilhar alegrias.
Falta-nos qualquer coisa, é como se tivessemos apenas meia felicidade, meio contentamento, meia vida.»

E faz todo o sentido - a vida não partilhada é como um deserto de sentimentos - penso eu. Ora aqui está uma coisa interessante, que eu não esperava encontrar num romance ligeiro e despretencioso.

(*)
CÓDIGO D'AVINTES - O Romance, passado nas margens do Douro, que faz luz sobre o mistério da infancia de Jesus Cristo.

quarta-feira, outubro 15, 2008

a Fonte 284


Na entrada da Vila Ramos, na Cruz Quebrada.
Quase em frente ao antigo terminus da carreira de eléctricos nº 15 (Praça do Comércio - Cruz Quebrada) cuja viagem, em 1973, ano em que a carreira foi extinta, custava a módica quantia de 2$00 (2 escudos), ou seja, UM CÊNTIMO de EURO.
Isto fica nas margens da Ribeira do Jamor, junto à foz, paredes meias com o Estádio de Futebol, conhecido como o "Estádio Nacional", para todo os Portugueses, excepto um, certo e determinado sinhuor do nuorte, dono do FCP - para esse, aquilo é apenas o "Estádio de Oeiras".

terça-feira, outubro 14, 2008

a Jardinar


[Escultura no Parque Serralves, Porto]

A Sombra

Agora, lá vou eu a Tribunal
Para explicar ao doutor Juiz,
A malandrice que eu fiz:
Plantei uma árvore no quintal.

A árvore, cresceu sem parar
E faz sombra na casa do lado.
Ora bem, cá estou eu acusado
Porque não a quero arrancar.

Este ano tudo me aconteceu;
O azar caiu em cima de mim;
Se as coisas continuam assim,
Quem vai ficar à sombra, sou eu!

(quem manda armar em jardineiro?)

segunda-feira, outubro 13, 2008

Penso Rapido (3)



«A sociedade depende das mulheres;
todos os povos que as mantêm encerradas, são insociáveis.»

(Voltaire)

domingo, outubro 12, 2008

a Fonte 283


(foto de David Moraes de Andrade - Wikimédia)
A Fonte de Iracema, na Lagoa de Messejana(*)

«Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
»
(*)
Não confundir:

Messejana, a Lagoa
Brasil (Ceará) em Fortaleza, a terra natal de José de Alencar, autor do romance/lenda que conta a paixão entre a sacerdotiza índia "Iracema" e o navegador português Martim, que teria acontecido nas praias do Ceará.

Messejana, a Praia
Portugal (Alentejo) perto de Aljustrel, a terra natal de Brito Camacho, presidente da 1ª República Portuguesa, que segundo a lenda, teria prometido aos seus conterrâneos: "tratem vocês de arranjar a areia, que eu depois mando levar a água" para fazer lá a praia.

sábado, outubro 11, 2008

Amanhecer CXXXIX


Um obstáculo de cor intensa invadiu o horizonte da minha janela, na Casa da Praia, virada para o campo.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Qualidade de Vida


(autoretrato, numa passagem pedonal sobre a linha do comboio)
Por vezes, esqueço que estou velho e cansado não, mas chateado sim, desta vida sem jeito, sem sentido e desafio o meu filhote Miguel (10 anos) a fazer-me companhia num passeio a pé por Lisboa.
Nas tardes em que ele não tem aulas e eu tenho qualquer (pretexto ou) assunto para resolver na minha cidade, aí vamos nós. Ele adora andar no comboio, e eu também.

O comboio, leva-nos quase desde a porta de casa, até ao centro da Cidade, na velha Estação do Rossio. Durante a viagem, dá para apreciar as mudanças na paisagem e fazer as palavras cruzadas ou ler um jornal daqueles que são distribuidos gratuitamente nas estações.
É um descanso, quando comparado com o trabalhão (o stress, o risco) de conduzir um automóvel até Lisboa e lá encontrar um lugar de estacionamento... e depois fazer o percurso de volta.
Todas as manhãs, me sinto um estúpido a olhar, sem entender como é que é possível existir ainda, neste tempo de crise, aquela interminável fila de carros na minha rua aguardando a vez para entrar no afamado "IC19" a fim de se dirigirem a Lisboa.

O curioso é que, são raros, mesmo muito raros os carros que levam mais alguém para além do condutor. Chamam a isso, qualidade de vida? E o Burro sou Eu? Ah, não... Pois claro, Burro era o Luis Felipe Scolari.

a ver navios 36


O pescador do mar alto
Vem contente de pescar.
Se prometo, sempre falto
Pois receio não agradar.


(F. Pessoa)

quarta-feira, outubro 08, 2008

a Fonte 282


Não parece, mas é.
Ou melhor, era, uma fonte.
Hoje é uma ruína, como tantas outras, soterrada na orla do canavial que invadiu meia encosta do parque de treinos do Vale do Jamor, no limite urbano de "Linda-a-Velha", que eu por vezes confundo com "Linda-a-Pastora", a que um velho amigo chamava, "Jolie-la-Vieux" ou "Jolie-la-Bergère".

tudo fora



bolhas de goma arábica
em casca de pessegueiro;
a raiva deita por fora,
de contida, irrompe,
dos poros fechados
dos sentidos recolhidos.
tudo o mais foi fora,
foi tudo embora:
palavras para fora,
tudo fora de mim.

por dentro, a desolação;
por fora, o andar errante,
sorriso incipiente,
um olhar perdido,
no semblante amorfo,
sereno... pacato e descuidado;

falso preconceito de ordem
atormenta os sentimentos
com emoções fora de tempo;
o tempo sem data,
que parou por dentro
duma vida sem nada;
desisto da vida,
não quero nada - aceito tudo!
basta-me apenas um dia,
somente um dia, em cada dia,
para o resto de uma vida,
ser bem vivida.

terça-feira, outubro 07, 2008

a ver navios 35


Vem o navio, na volta do mar
só não há volta nesta vida
que nos permita regressar
depois da vida cumprida

a Fonte 281


Fonte de Casaínhos

Ninguém procura Bucelas, por causa da água - lá o que é bom é o vinho - só Eu.
..
Estive, outra vez, nesta fonte a encher uns garrafões de água fresca e boa e mais uma vez, me esqueci anotar o que está escrito nos azulejos... para além do letreiro habitual, a dizer que «esta água, etc., etc., coisital».

Estou a ficar um bocado passado da cabeça - vou passar a beber menos água e mais vinho.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Penso Rapido


"Nesta vida tudo é passageiro,
menos o motorista e o cobrador."

Olhares


Estou lixado!

Ó São Pedro toma cuidado
Com essa tua chuva fina,
Molhas o carro da menina,
E ela... tem um advogado.

A cabra da minha vizinha,
Que não tem um namorado,
Marra comigo, "tô tramado!"
Que raio de sina a minha.

Terei uma marca na testa?
Isto é de bradar aos Ceus!
Mas que mal fiz eu a Deus?
Oh, que porra de vida esta.

Farto-me de ser maltratado,
Sem motivo, sem explicação.
Não é mania da perseguição,
Isto é mesmo mau-olhado.!?


A crença no "mau-olhado" é antiga e universal.
«O olhar pode curar, abençoar, regenerar e fazer prosperar. Mas, se impregnado de inveja, ódio, desconfiança, cobiça, raiva, egoísmo e tantos outros pensamentos destrutivos, pode até matar».
Era o que diziam os antigos, que usavam uma "figa", como amuleto, para afastar este e outros feitiços.
A língua dos povos atesta a sua difusão e persistência -"mal-occhio", "evil eye", "mal de ojo". Em português, é chamado também, encosto, olho de seca-pimenteira, olho-grande, olho de inveja, olho-mau, maus-olhos.
Não é de hoje que se temem os seus efeitos.
Demócrito mencionava já entre os mediterrâneos essa crença, da qual não conseguira determinar as origens. Aristóteles comentava que o olhar de algumas pessoas podia causar perturbação funesta no corpo e na mente dos fascinados. A Lenda de Medusa, cujo olhar petrificava as pessoas é uma história de mau-olhado.

domingo, outubro 05, 2008

Outonar



..que sei eu

Mas que sei eu das folhas no Outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

(Ruy Belo)

sábado, outubro 04, 2008

Amanhecer CXXXVIII


O Manjerico que te dei pelo Santo António,
lá está ele, verdinho e bem viçoso,
plantado no canteiro do teu quintal.
De manhã, quando lhe deito água fresca,
ele liberta no ar aquele aroma delicioso.

Só já não tem, perdeu-se o Cravo de Papel
em cuja aste estava colada a tradicional

QUADRINHA POPULAR

O manjerico comprado
Não é melhor que o que dão.
Põe o manjerico ao lado
E dá-me o teu coração.

(e olha que era de Fernando Pessoa)

sexta-feira, outubro 03, 2008

a Fonte 280


Mãe d'Água da Praça da Alegria (LISBOA)

"O CHAFARIZ DO VINHO", é como se chama agora esta fonte.
É pois!
O antigo chafariz da Mãe d'Água à Praça da Alegria, agora fornece vinho. Pegando no adágio português, "foi chão que já deu uvas", podemos hoje dizer: "foi chafariz que já deu água".
É verdade!
O velho túnel que ligava este chafariz ao depósito cisterna da Patriarcal, no Principe Real, agora está repleto de garrafas de vinho. É a garrafeira de serviço do restaurante e bar que funciona aqui dentro da Mãe d'Água.
A copo!
À boa maneira de antigamente, como numa tradicional casa de "Vinhos e Petiscos" onde se pode jantar ou petiscar e provar o "vinho a copo".
Estou para lá ir, há que tempos, mas ainda não calhou, por isso, peço a quem já lá esteve: «conte aqui como foi...»

quinta-feira, outubro 02, 2008

A CRUZ


Está assim mesmo, o Terço da Jacinta (a dos três Pastorinhos de Fátima), colado numa vulgar folha de papel à mistura com outras coisas, dentro de uma frágil vitrine, na entrada da Igreja do Convento de S. Domingos - Lisboa.

Trazes uma cruz no peito.
Não sei se é por devoção.
Antes tivesses o jeito
De ter lá um coração.


("Quadras Populares", Fernado Pessoa)

quarta-feira, outubro 01, 2008

a Fonte 279


Boa Hora (Lisboa)

A Rainha Dona Maria II, em boa hora, mandou construir
na Boa Hora, este chafariz, por onde correram as águas vindas da mina da Torre do Relógio, no alto da Ajuda, desde 1839 até... que secou a nascente ou os construtores civis do Século XX, rebentaram algures com a canalização e COMO DE COSTUME, ninguém (nem a EPAL nem a CML) se ralou com isso.

Retratos (3)


..continuação

Uma vez flanqueada a portaria, o vírus da “má disposição”, passa facilmente ao ataque do pessoal do Balcão de inscrições para atendimento.


«Então o que é que o traz cá? Ah, sim, acha que está doente mas não sabe o que é que tem… ora bem, para já, tem que pagar a taxa moderadora! Para quê? Ora pois, como o próprio nome diz, é para moderar... o quê? Os impulsos! Os abusadores que têm a mania de recorrer aos serviços médicos do SNS sempre que desconfiam que estão doentes. Bem, vá lá…»

O Cartão de Utente. O Número de Contribuinte? Esse, não é preciso. Aqui, o que faz falta é o Número de Beneficiário (é verdade, tinha-me esquecido e convém realçar que, neste caso, o contribuinte queixoso é considerado um beneficiário – o que só piora as coisas, pois em princípio, quem que beneficia deve limitar-se a receber o que lhe quiserem dar e não se armar em “pobre e mal agradecido”- não tem direito a reclamar.


Umas dicas:
- convém ter à vista, o Cartão de sócio do SLB - se possível com as quotas em dia. Não é ainda obrigatório, mas pode ajudar, dado que, é enorme a probabilidade de o candidato a doente vir a ser atendido por um funcionário, adepto do Benfica.
Estima-se em cerca de 6 Milhões o número de adeptos e simpatizantes do Glorioso.

- e é sempre bom ter a jeito o Cartão de Sócio do ACP, para chamar um reboque, na hipótese (bastante frequente) de o beneficiário vir a ser redireccionado para outro local de atendimento, geograficamente distante.


(...mas, isto ainda não é tudo. Continua.)

Poema Esquecido

Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...