Um Cristo de metal dourado,
de braços abertos para o céu,
jaz semi-nu, liberto da cruz,
no chão, por ali, deitado
sobre a areia de uma campa-rasa,
sem nome, sem dono,
sem lápide, nem epitáfio:
"Recordação de eterna saudade
de todos os seus entes
queridos que deixou por cá..."
ao abandono,
isento da sombra da jarra sem flores,
que já lá não está,
refulge aos raios da luz
de um Sol de Inverno,
reflexos de mil cores,
alegram o triste dia de Finados.
Muito a custo, saiu de casa,
para cruzar as ruas da cidade,
- o trânsito é um inferno -
a velhinha, apoiada na bengala,
a cabeça coberta com um véu,
vem rezar diante do cenotáfio
dos Heróis Combatentes
que nunca foram sepultados.
Um pequeno cravo encarnado
que traz dentro dentro da mala
- colhido de manhãzinha no canteiro
da varanda - é uma lembrança,
uma homenagem ao seu amado,
que nunca será esquecido;
velho amigo e companheiro,
há muito anos desaparecido
lá longe na guerra de França.
(impressões de visita ao cemitério no dia dos Fiéis Defuntos)