sexta-feira, dezembro 16, 2005
Manter a chama
O blog vai ficar assim, no lusco-fusco, até ao fim do ano.
Não deixem apagar a luz - vão escrevendo - enquanto eu andar aí por fora a fotografar.
Eu venho ler e até talvez consiga escrever, de vez em quando.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Dispenso
Quero dizer que dispenso
O meu escravizado cérebro,
De toda e qualquer actividade.
Está superiormente autorizado
A desligar todas as comunicações
Entre os neurónios e axónios.
Estou constipado.
Escorre água do meu nariz.
Choram os meus olhos.
Já ensopei 3 dúzias de lenços.
Com a cabeça cheia de água
É perigoso pensar muito
Pode dar curto-circuito.
Vou tomar um Cognac,
Uma Aspirina e vou dormir.
Desligo a corrente.
Hoje não penso.
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Eu penso
Hermafrodita
De Hermes e de Afrodite o filho esbelto e amado,
de Salmacis oscula o corpo melodioso,
e a ninfa treme e ondeia o moço deslumbrado,
com um prazer que chega até a ser doloroso...
Ela – dócil, a arfar, como, ao vento, as searas...
Ele – forte, a arquejar, como, com cio, um touro...
O cabelo da ninfa inunda as duas caras,
e há beijos musicais sob essa chuva de ouro...
Enleandos um ao outro, a asa de uma mosca
não caberia não! entre esses corpos belos,
que se enroscam, sensuais, febris, como se enrosca
no tronco a vide em flor, e a hera nos castelos.
Dos dois corpos a união, entre lascivos ais,
cada vez, cada vez se torna mais completa,
e aquelas coxas cada vez se agitam mais:
uma brancas, de luar, outras rijas, de atleta...
Num doido frenesi, entrar parecem querer
ela – no corpo dele, ele – no corpo dela!
Choram, gemem, dão ais... e no auge do prazer,
começam a gritar para o céu que se estrela:
– «Ó deuses! atendei esta súplica ardente:
se é verdade que ouvis as vozes que vos chamam,
os nossos corações, fundi-os num somente,
fundi num corpo só nossos corpos que se amam!»
Chegou ao vasto Olimpo a rogativa louca;
e Zeus, o grande Zeus, cuja força é infinita,
as duas bocas transformou numa só boca,
e dos dois corpos fez um só: HERMAFRODITA!
(E. M. de Melo e Castro)
terça-feira, dezembro 13, 2005
Queixume
O Fracasso
Ao primeiro homem e à primeira mulher não lhes bastou terem por sua conta todo o Paraíso Terrestre, completo. Ainda quiseram mais do que ter tudo.
Por outro lado, ele tinha lá as suas ideias, suas dele, e ela tinha as dela, suas dela. Pagavam-se na mesma moeda.
Palavra de honra que até parece que eram portugueses! E os seus filhos lá saíram também aos pais. Cada um para seu lado, cada um no seu isolamento, cada qual na sua solidão. Exactamente como se em vez de um houvesse dois mundos iguais e uma pessoa só para cada mundo.
Foi por culpa deles! por culpa desses dois curiosos de direcções proibidas! por causa dessa senhora e desse cavalheiro! por culpa desses dois caloiros da humanidade, nunca mais ninguém soube no mundo até hoje como se fazem as coisas espontaneamente.
E foi-se por água abaixo a primeira colaboração que se fazia no mundo. A História da Humanidade começa exactamente por um fracasso, o fracasso da primeira colaboração entre pessoas. (discurso de Almada Negreiros)
segunda-feira, dezembro 12, 2005
O Inferno
I. Et j'étais au haut du mont Atlas, et de là je contemplais le monde, et son or et sa boue, et sa vertu et son orgueil.
II. Et Satan m'apparut, et Satan me dit : « Viens avec moi, regarde, vois ; et puis ensuite tu verras mon royaume, mon monde à moi. »
III. Et Satan m'emmena avec lui et me montra le monde.
IV. Et planant sur les airs, nous arrivâmes en Europe. Là, il me montra des savants, des hommes de lettres, des femmes, des fats, des pédants, des rois et des sages ; ceux-là étaient les plus fous.
V. Et je vis un frère qui tuait son frère, une mère qui trompait sa fille, des écrivains qui, par le prestige de leur plume, abusaient du peuple, des prêtres qui trahissaient leurs fidèles, des pédants qui faisaient languir la jeunesse, et la guerre qui moissonne les hommes.
...
XV. - Montre-moi ton royaume, dis-je à Satan.- Le voilà !- Comment donc ?Et Satan me répondit :- C'est que ce monde, c'est l'enfer !
(Gustave Flaubert)
O Proibido
Mas a verdade do que se passou é a seguinte:
O par... Ah! agora me lembro de como se chamavam os dois: Adão e Eva!
Pois este par andou por toda a terra, pelas cinco partes do mundo, o qual por esse tempo era todo conhecido e não tinha ainda nenhum pedaço por descobrir; conheceu e gozou todas as maravilhas, todas as fortunas,
todas as riquezas, todas as infinitas felicidades que Deus deitou ao Mundo, até que um dia, dia maldito na História do nosso planeta, depois de já terem feito o que lhes estava permitido fazer, já não tinham mais novidades do que aquelas que eram as proibidas.
Oh curiosidade! Oh apetite!
E claro está também fizeram o que era proibido. Dizem que foi ela quem começou, mas fosse qual fosse, isso é secundário, o importante é que acabaram os dois.
O par... Ah! agora me lembro de como se chamavam os dois: Adão e Eva!
Pois este par andou por toda a terra, pelas cinco partes do mundo, o qual por esse tempo era todo conhecido e não tinha ainda nenhum pedaço por descobrir; conheceu e gozou todas as maravilhas, todas as fortunas,
todas as riquezas, todas as infinitas felicidades que Deus deitou ao Mundo, até que um dia, dia maldito na História do nosso planeta, depois de já terem feito o que lhes estava permitido fazer, já não tinham mais novidades do que aquelas que eram as proibidas.
Oh curiosidade! Oh apetite!
E claro está também fizeram o que era proibido. Dizem que foi ela quem começou, mas fosse qual fosse, isso é secundário, o importante é que acabaram os dois.
E então foi o diabo! Desde esse momento escangalhou-se tudo. Tudo!
(discurso de Almada Negreiros)
domingo, dezembro 11, 2005
Sra da Praia
TARDE NO MAR
A tarde é de oiro rútilo: esbraseia.
O horizonte: um cacto purpurino
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frágil graça de menino,
Pousa o manto de arminho na areia
E lá vai,e lá segue o seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia,
Desenha mãos sangrentas de assassino!
Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que tu te entretens a desfolhar...
(Florbela Espanca) - a Maria enviou o soneto e eu acho bem.
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Amizade
quarta-feira, dezembro 07, 2005
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Esgoto de sentimentos
porque te lavas no rio
Povo que te lavas no rio
Na corrente impetuosa
Deste meu pensamento
Cascata de água sombria
Prosas do meu desalento
Versos em flor de agonia.
Como uma onda alterosa
Congelada em gelo frio.
Com serena melancolia
Pergunto à brisa do mar
Para quê chamar o vento?
Aguardo novas de poesia!
Dizem que está para chegar
Envolta nas ondas do tempo.
Estou pior, sinto-me mal,
Pressagio novo temporal.
Irei decerto viajar outra vez
Como há um ano neste mês.
Ida e volta um dia inteiro
Quilómetros 900 sem parar
Desta vez, ainda, sem fumar
Viajante sozinho e solteiro.
Contradição, é o meu receio
De atravessar o Rio Lethes.
Pois queria muito esquecer
O que está para além dele.
Perder a memória do Norte,
(Sem perder o norte da memória)
Do passado recente de um ano,
Lembrança não sublimada,
Pensamento à força recalcado
Que volta sempre ao de cima
Todos os dias e todas as noites
A qualquer hora sem previsão
(Até mesmo a ver televisão)
Rompe tudo o que penso, ao meio
Como uma angústia muito forte
Não posso esquecer a história
Que até me faz arrepiar a pele.
Há que enfrentar o marrano
E talvez dele fazer uns filetes.
Não levo naifas nem pistolas
Só um metro e meio de raiva
E sede de justiça, pela injustiça!
Ó, merda, preciso de coragem
E não me perder na voragem.
E solidariedade, compreensão.
E um advogado, porque não?
Três da Madrugada
BB King and Eric Clapton - "three o'clock blues"
... Three (tree) o'clock in the morning
and I can't even close my eyes
can't find my baby
and I can't be satisfied
I'm looking all arround me
And my baby, she can't be found...
______________
and so on, and so on, etcetera, etcetera... it goes on playing for 8:36 minutes of (the best) Jazz. music included in the Album "Riding With the King", that I am listening now.
Super! Superbe! Realy; Vraiement; Realmente; Verdadeiramente; Extraordinário - vale a pena ouvir.
Minha Lisboa Querida
Lisboa, querida mãezinha
Com o teu xaile traçado
Recebe esta carta minha
Que te leva o meu recado
Que Deus te ajude Lisboa
A cumprir esta mensagem
De um português que está longe
E que anda sempre em viagem
Vai dizer adeus à Graça
Que é tão bela, que é tão boa
Vai por mim beijar a Estrela
E abraçar a Madragoa
E mesmo que esteja frio
E os barcos fiquem no rio
Parados sem navegar
Passa por mim no Rossio
E leva-lhe o meu olhar
- de todos os poemas, de todos os fados de Lisboa, este é o que toca verdadeiramente no meu coração de alfacinha - dá-me vontade de chorar.
- a noite passada, revivi o grande prazer de dar uma voltinha nesta carreira 28, Graça - Estrela.
domingo, dezembro 04, 2005
Galiza e Portugal
A nobre Lusitania
os brazos tende amigos,
ós eidos
ben antigos
con un punxente afán;
e cumpre as
vaguedades
dos teus soantes pinos
duns máxicos
destinos
oh grei de Breogán.
que aló do Miño están,
os bos fillos do Luso,
apartados
irmáns
de nós por un destino
envexoso e fatal.
Cos
robustos acentos,
grandes, os chamarás,
¡verbo do gran
Camoens,
fala de Breogán!
(Eduardo Pondal)
Mar salgado
sábado, dezembro 03, 2005
tu és todos nós
Na tua voz há tudo o que não há,
há tudo o que se diz e não se diz.
Há os sítios da saudade em tua voz,
o passado, o futuro, o nunca, o já,
há as sílabas da alma, e há um país.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Na tua voz embarca-se e não mais,
não mais senão o mar e a despedida,
há um rastro de naufrágio em tua voz
onde há navios a sair do cais,
nessa voz por mil vozes repartida.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Há mar e mágoa, e a sombra de uma nau,
a Gaivota de O'Neil e o rio Tejo,
saudade de saudade em tua voz,
um eco de Camões e o escravo Jau,
amor, ciúme, cinza e vão desejo.
Porque tu, mais que tu, és todos nós.
(de Manuel Alegre, para Amália)
Céu de Lisboa
sexta-feira, dezembro 02, 2005
na corrente do tempo
Retrato de Amália
És filha de Camões filha de Inês
assassinada voz de portuguesa
cantando a nossa imensa pequenez
com laranjas e gomos de tristeza.
É no claro Mondego dos teus olhos
que se debruça o mal da nossa mágoa.
Ao Tejo dos teus gestos que se acolhe
o nosso coração a pulsar água.
Falando desatada de saudade
choras um povo cantas a balada
mais bonita que soa na cidade
de Lisboa por ti apaixonada.
(José Carlos Ary dos Santos)
És filha de Camões filha de Inês
assassinada voz de portuguesa
cantando a nossa imensa pequenez
com laranjas e gomos de tristeza.
É no claro Mondego dos teus olhos
que se debruça o mal da nossa mágoa.
Ao Tejo dos teus gestos que se acolhe
o nosso coração a pulsar água.
Falando desatada de saudade
choras um povo cantas a balada
mais bonita que soa na cidade
de Lisboa por ti apaixonada.
(José Carlos Ary dos Santos)
quinta-feira, dezembro 01, 2005
e dura, dura...
quarta-feira, novembro 30, 2005
Chez nous
terça-feira, novembro 29, 2005
As Razões
segunda-feira, novembro 28, 2005
A Minha Arte
A Cor da Trovoada
Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos ...
Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém...
Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranqüilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...
Que artifício!
Que sabem As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?...
Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos...
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós ...
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)
E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz...
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega.
Alberto Caeiro
Ridículo
A Sensibilidade
O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela.
(Fernando Pessoa)
quarta-feira, novembro 23, 2005
terça-feira, novembro 22, 2005
Tempos antigos
A Roda do tempo em 1892.
O passado e o futuro parecem-nos sempre melhores; o presente, sempre pior. (Shakspeare)
segunda-feira, novembro 21, 2005
Nas rodas do tempo (1)
O Despertar.
"O tempo é um grande mestre; tem porém o defeito de matar os seus discípulos." (H.Berlioz)
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