quinta-feira, outubro 23, 2008

a ver navios 39


14
Pouca tardança faz Lieu irado
Na vista destas cousas, mas entrando
Nos paços de Neptuno, que, avisado
Da vinda sua, o estava já aguardando,
Às portas o recebe, acompanhado
Das Ninfas, que se estão maravilhando
De ver que, cometendo tal caminho,
Entre no reino da água o Rei do vinho.
..
20
Vinha o padre Oceano, acompanhado
Dos filhos e das filhas que gerara;
Vem Nereu, que com Dóris foi casado,
Que todo o mar de Ninfas povoara.
O profeta Proteu, deixando o gado
Marítimo pacer pela água amara,
Ali veio também, mas já sabia
O que o padre Lieu no mar queria.
21
Vinha por outra parte a linda esposa
De Neptuno, de Celo e Vesta filha,
Grave e leda no gesto, e tão fermosa,
Que se amansava o mar, de maravilha.
Vestida hüa camisa preciosa
Trazia, de delgada beatilha,
Que o corpo cristalino deixa ver-se,
Que tanto bem não é pera esconder-se.


(Luis Vaz de Camões)

Agora, ao ler e reler estrofes como estas (Canto VI - "O Concílio no Reino de Neptuno para tramar os Argonautas Portugueses") fico extasiado - a epopeia dos Lusíadas é, sem qualquer dúvida, uma obra admirável.
Como é diferente esta minha leitura e apreciação(*) daquela outra que fiz na minha "Prova Oral" de Português do 5º Ano (antigo) Liceal - a
horrível tortura a que fui
sujeito
no Liceu Pedro Nunes, há... sei lá quantas décadas.

(*)
Também é preciso dizer que, hoje NINGUÉM ME OBRIGOU a dividir o texto em "orações", identificar o "sujeito", o "predicado", o "complemento directo" e etc. etc. Mesmo que quisesse já não o conseguia fazer - por isso, deixo essa tarefa a cargo de pessoal mais competente, como os inspectores da PJ.

2 comentários:

Cristina disse...

Nous avons parlé de toi, de ta famille et de tous les autres amis, ce soir avec Jacques!
Bisous.

Anónimo disse...

Bicho:
Como vês, quando se lê só por prazer, tem outro encanto. Talvez seja o momento, para leres os "Maias".
Maria

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