terça-feira, agosto 04, 2009

tem horas...


Tem horas, que por vezes são dias e noites inteiras, em que é difícil, até impossível para mim, controlar o desânimo que me invade.

Nessas horas de verdadeira angústia, todos os meus pensamentos passam a negativos. Então tenho receio de viver, procuro apagar-me, tornar-me invisível,
quero ficar escondido, fora da vista do mundo lá fora.

Fecho-me em casa, invento uma tarefa que exija habilidade manual aliada a alguma reflexão mental sobre um projecto, como por exemplo, aproveitar as sobras da madeira de forrar as paredes para construir uma porta para o sítio do carvão do grelhador. E lá passa um dia, às vezes dois.

Mesmo assim, física e mentalmente ocupado, tenho momentos de sobressalto, quando olho a rua pela janela ou por cima do muro do quintal e percebo nas pessoas que me fitam, os reflexos inexplicáveis de agressividade, rancor, talvez ódio. É então, que fico estupidamente desanimado e quase arrependido de ter nascido.

Farto de Mim. Porquê Eu, sempre e só Eu, a incomodar a existência dos humanos - personalidades fortes, superiores - que pululam quase todo o espaço em meu redor?

Desço à cave, isolo os ouvidos dos sons da rua, com uma música forte – Ravel e Katchaturian – e tento passar à tela, uma composição que vou buscar ao arquivo das “ideias para um quadro”, que vou guardando algures na memória, quando elas surgem em qualquer lado, a qualquer hora.

Por vezes, não resulta. A mão não consegue trazer para este mundo, isto é, pôr na tela, aquilo que me vai na alma. Então, as coisas pioram.

Maldigo a minha duvidosa existência e revolto-me contra o que não sou, mal-agradecido à Natureza porque não me dotou de uma camada protectora (fisiológica e psicológica) adequada ao meio inóspito em que decorre esta minha vida. Falta-me uma protecção adaptada ao convívio com as mentes soberbamente egoístas deste mundo ignóbil.

5 comentários:

Maria disse...

Bicho:
Se as tuas angústias dão para fazer obras, como este quadro, benditas angústias.
Quanto ao resto, só te poderia responder com as tuas palavras. Estou na mesma, sabes? Às vezes, não sei bem o que ainda cá estou a fazer. Sinto-me um ET, neste mundo estúpido e brutal.
Que belo par, amigo!
Um beijinho, companheiro.

Kim disse...

Experimenta pensar o contrário. Vais ver que resulta.
Tens tudo (até a reforma) para dar a volta por cima. Não entendo como é que mergulhas nesse poço sem água onde só é possivel viver em desalinho.
Agora que o tempo te sobra, tens para seres feliz, não podes meter a cabeça na areia e esperar que o vendaval passe.
Tu és já a bonança. Não provoques a tempestade.
Aproveita todas as coisas boas que tens e serás um homem novo.
É só quereres!
Grande abraço Gigi!

O Bicho disse...

Pois, querer eu queria, mas infelizmente viver em paz com o mundo está a ficar complicado.
Mal saio à rua sou envolvido numa confusão que não provoquei.
Eu bem tento ser conciliador, mas não me aceitam nesse papel.
Parece que o mundo inteiro me declarou guerra.

O Bicho disse...

..e depois, se guerra fosse só minha, exclusiva, eu podia viver com isso, sempre sobrevivi, mas se a coisa envolve os meus mais que tudo, então fica tudo estragado. Perco o meu suporte afectivo - a família chegada - e um homem sem afecto, é igual a um sem-abrigo vagueando sem destino pelas ruas.

O Bicho disse...

MAS... ainda não é desta que me vou embora.

Poema Esquecido

Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...