segunda-feira, fevereiro 16, 2009

a ver navios 62


Caminhávamos no longo areal da praia de Carcavelos, junto à efémera fímbria da espuma amarelada que marca os avanços e recuos das ondas na areia molhada.

«.. e é por isso que eu afirmo que, o casamento é contrário à sobrevivência da espécie», concluiu o meu velho amigo, filósofo, por formação académica e "sociólogo por intervenção irrecusável, na prática desta porra de vida que é a nossa (salvo seja)" - citando as palavras da sua auto-definição.

Parei por alguns segundos, com o olhar fixo nas silhuetas dos navios que interrompiam a linha do horizonte, enquanto meditava naquela conclusão.

«Pois, sim, és capaz de ter razão. Não toda, mas alguma. Concordo que será contrário á sobrevivência apenas do género Homem, em particular e não da espécie Humana, em geral», disse eu enfim, enquanto a expressão era sublinhada pelo longínquo som cavo da buzina de um dos navios.

O odor intenso da maré vazia, não conseguiu impedir o meu olfacto de captar e enviar ao cérebro um cheiro acre, de imediato reconhecido no sistema nervoso central, por fazer parte dos arquivos de memória de juventude - o fumo, misto de papel queimado, tabaco-de-onça e barbas-de-milho - era o que o nosso sociólogo de trazer-por-casa estava a consumir, objectivamente.
A finalidade última, quando ele fumava, era tão só, queimar a garganta, os brônquios e os alvéolos pulmonares, numa tentativa de alcançar um certo equilíbrio térmico de todo o corpo, com os seus neurónios que fervilhavam de actividade, queimando doses imensas do combustível, glicose, transportado pelo afluxo sanguíneo. Só não deitavam fumo, mas quase...

Por fim, juntamente com uma baforada de halitose, lá saiu o resultado do processamento da informação. Disse ele:

«Está provado que o tempo, é grande inimigo da mulher, mais que do homem. Nas mulheres, são mais visíveis fisicamente, as agruras da passagem dos anos. Em contrapartida, porém, é sabido que elas vivem, por norma, mais tempo que os seus homens. Porquê?»

1 comentário:

Anónimo disse...

Isso era dantes! Vê o exemplo da Lili, da Cinha e outras. Mas quem lhes passa a ferro as rugas da alma? E essas, amigo, não são exclusivo das mulheres.
Beijo
Maria dos Alcatruzes

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