quinta-feira, outubro 28, 2010

Outonos


Outonos nesta janela, dentro e fora dela.

O Outono da Terra derrama ondas de sol dourado sobre as velhas paredes.
O Outono da Vida toma o seu lugar à janela, aconchegado na sua dona.

Ela aquece um pouco com os raios de sol enquanto espreita para o fundo da rua, à espera de ver aparecer o seu companheiro de quase toda a vida, a descer a calçada de Santo António.
É um hábito de longos anos de casada. Com bom tempo, à tardinha, fazer um intervalo na lida da casa, antes de começar a preparar a janta, e vir debruçar-se à janela a vigiar o movimento na calçada.
Mas, o seu homem, já não sai à rua.
Antes da trombose que, o ano passado ao cair da folha, lhe tolheu os movimentos, ele ainda dava a sua voltinha, amparado na bengala, é certo, mas lá ia andando pelo estreito passeio da rua, sem ajuda de ninguém. Devagarinho, ia até ao jardim de Santana, onde passava as tardes aquecendo os ossos para conseguir um pouco de alívio para as artroses dolorosas que afectavam as desgastadas articulações.
Só que hábitos antigos são difíceis de perder.
E ela esquece que já viveu outro tempo que não este. Hoje quase nada está igual, a não ser talvez só o Sol. O Sol de Lisboa, que parece sempre o mesmo, animando de cores a cidade com a luz que ele derrama sobre ela, irradiando o calor que faz bem à circulação do sangue e reconforta o coração da gente que por aqui sobrevive... e continua.

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