AMARANTE
É tarde, já devia ter acordado há mais tempo, mas... acontece-me, por vezes, ao despertar, não sei o que sinto, só sei que não quero sentir - sentir que não me apetece regressar à vida. Fico deitado a pensar que não vale a pena erguer o esqueleto para retomar o dia-a-dia.
É então que o espírito - ou lá o que é, não sei, o que se chama ao ser ou à coisa imaterial que vive agarrado ao meu corpo físico - se levanta, sai das fronteiras do quarto e vai por esse mundo fora...
voando, nunca, não me recordo de tal;
navegando, não, também não me lembro;
sempre percorrendo caminhos terrestres de cidades, aldeias, ruas, praças e avenidas, campos abertos ou íngremes encostas, abruptas escarpas rochosas, agrestes; meandros de rios, margens floridas, planos de lezíria e verdes planaltos; castelos, igrejas, pontes e fontes; monumentos, quase sempre em Portugal; raramente saio fora do meu País durante estas viagens espirituais;
acorrem amiúde vividas imagens de França; também de Itália, estas muito menos - poucas mas boas.
Essa coisa que desencadeia a projecção num ecrã de cinema interior, de cenas ou fotografias, retiradas do emaranhado arquivo da mina memória, é uma actividade psíquica geradora de emoções contraditórias:
- um grande prazer, a sensação de liberdade sem limites, o poder imenso, sobre-humano, de olhar o mundo, de fora;
- tudo isto, no final aporta ao nível da consciência, uma angústia insidiosa: "existe em mim um desejo latente de partir!"
3 comentários:
Curiosas divagações!
A dúvida entre o querer ficar, ou
partir. Eu compreendo esses estados
de "alma?", infelizmente também
os sofro. Não é fácil viver!
M.Júlia
Sabes, Bicho?
Apanhei a mania de me sentar aqui, viajar sem sair de casa e, tudo quanto mude esse hábito, cansa-me muito.
O Vasco desafiou-nos para irmos para fora na Páscoa e estou-me a mentalizar para isso. Iremos para Fox do Arouce, local que ele escolhe muitas vezes para passar uns dias. Diz que é calmo, sem barulho e com pouca gente. Vou fazer a experiência, para ver se consigo reganhar o gosto de passear. Quero voltar à minha Tomar, rever amigo, o Nabão, os patos, o Convento.
Tenho que sair do casulo em que me enfiei. Sinto que isto, nos está a envelhecer muito. Tudo me passou pela cabeça, enquanto lia o teu texto. Obrigada por este abanão. Estava a precisar.
Beijnho
Maria
Boa sugestão, essa da Foz de Arouce. Conheço muito bem.
Não deixes de visitar o castelo da Lousã e o santuário da Sra. da Piedade.
Boa viagem, Maria.
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