domingo, junho 18, 2006

no quinto dia


(sexta-feira, 16 de Junho de 2006)

O cão sarnoso, com o pelo autenticamente a cair aos bocados, deambula à toa pelo areal de uma praia de Domingo, provocando uma inesperada sensação de mal-estar em quem o vê. Mete nojo e mete dó, aquele bicho, sem dono, sem alegria, sem rumo certo, vagueando inseguro.
Dirige-se para a toalha mais próxima, ou mais a jeito, ou sabe-se lá porquê, a que lhe parece ser a mais adequada para se estender ao comprido, se estiver vaga, ou na estreita faixa que dela restar se estiver ocupada por um ou uma descontraído banhista, que apanha invariavelmente um grande susto.
Parece que o triste e solitário cão, procura substituir a companhia de um dono que perdeu. Deve ser isso ou haverá mais? Queria saber e também descrever de uma forma mais clara, aquele andar do cão vadio, sem dono, sem casa, no fundo, um sem abrigo, mas não consigo encontrar as melhores palavras.
Também não sou grande escritor. Nem grande nem pequeno, sou apenas escritor, porque aprendi a escrever e escrevo, mais nada. Por isso, apelo à imaginação, dos que nunca observaram uma cena igual ou à memória de quem, certamente a maioria, já presenciou e provavelmente teve que enxotar, por ter sido objecto ou alvo do súbito interesse de um desses cãezinhos errantes.
Há dias, tive o desgosto de ver e mandar embora (Xô!!!), enxotar para longe, com um misto de receio e pena, um daqueles lobos de olhos azuis, oriundos do frio Norte da Europa. Uma raça de cão que nos últimos anos, esteve muito em moda nas casas de família da classe média-baixa desta nossa terra, de clima bem morno, por certo nada adequado a uma normal sobrevivência dos animais.
Fixei o estranho olhar do bicho. Era intensamente triste e simultaneamente ameaçador! Assim com que a querer dizer:
estou a precisar da companhia de alguém (de um dono) que me tolere, que me deixe estar junto a ele, sem mais nada; não quero comer, nem brincar, nem nada; só descansar, relaxar junto a uma pessoa; não preciso de meiguices, não me façam festas, só quero que não me tratem mal, caso contrário vou responder com raiva e com maus modos, vou rosnar e mostrar os dentes a quem levantar a mão, nem que seja só numa ameaça; estou numa de intolerância.

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