sábado, janeiro 31, 2009

Amanhecer CLV



Golfinho de pedra.
Um golfinho comum adulto, desorientado, deu à praia hoje à tarde numa Praia da Nazaré.
Parece que os golfinhos comuns são acometidos pelo síndrome de arrojamento -dizem os biólogos que socorreream o animal - esta estranha patologia, cuja etiologia ainda não está definida, faz com que estes mamíferos procurem a costa por não conseguirem suportar o peso do seu corpo no mar.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

a Fonte 331


Mafra

Bom, nem tudo é tão "foleiro" como se tem escrito aqui, nas fontes da região Saloia dos Concelhos de Sintra e arredores.
Por vezes, deparo-me com beleza e simplicidade, à beira da estrada, como é o caso desta pequena fonte/tanque construída na berma de um caminho isolado, em vale esquecido, ali para os lados da Malveira (Mafra) num lugar que tem um nome curioso - Santo Estêvão das Galés.
Coisa digna de uma dedicatória poética, no melhor estilo Bucólico ou Pastoril de Francisco Rodrigues Lobo:

«Verdes lapas, que ao pé de altos rochedos
Sois morada das Ninfas mais fermosas,
Fontes, árvores, ervas, lírios, rosas,
Em quem esconde Amor tantos segredos»
Ou digna de figurar numa descrição de "As Cidades e as Serras" (que também nunca li, mas tenho pena) do Eça de Queirós.

a ver navios 59


La mémoire et la Mer

..
La marée je l'ai dans le cœur
Qui me remonte comme un signe
Je meurs de ma petite sœur
De mon enfant et de mon cygne

Un bateau ça dépend comment
On l'arrime au port de justesse
Il pleure de mon firmament
Des années-lumière et j'en laisse

Je suis le fantôme Jersey
Celui qui vient les soirs de frime
Te lancer la brume en baisers
Et te ramasser dans ses rimes

Comme le trémail de juillet
Où luisait le loup solitaire
Celui que je voyais briller
Aux doigts du sable de la terre

..
(Léo Ferré)

quinta-feira, janeiro 29, 2009

a Fonte 330


Alfouvar (Sintra)

É o nome do lugar onde se encontra instalado, no meio de uma extensa várzea de couves, o importante conjunto de antenas parabólicas que constituem o Centro de Satélites de Sintra, próximo das quais se pode apreciar, a três dimensões, este magnífico exemplar da arquitectura (ou será engenharia?) civil em benefício do povo.
O gosto popular, neste caso (felizmente sem os tradicionais azulejos de casa-de-banho) manifesta-se apenas na exuberância de cor, conferindo mais alegria à paisagem desta região Saloia.

Onde fica isto? Só podia ser, na freguesia mais rica em fontanários e lavadouros do Concelho de Sintra - Almargem do Bispo.
Quem diria, cada vez que passo pela região, encontro novidades.

O Amor em Portugal (5)


O Amor

Amor é chama que mata,
Dizem todos com razão,
É mal do coração
E com ele se endoidece.
O amor é um sorriso
Sorriso que desfalece.

Madeixa que se desata
Denominam-no também.
O amor não é um bem:
Quem ama sempre padece.
O amor é um perfume
Perfume que se esvaece.


(Mário de Sá Carneiro, 1913)

quarta-feira, janeiro 28, 2009

as horas vazias


Livro do Desassossego [3]

«Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar.
Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!»


(Bernardo Soares, 1914)

a Fonte 329


Fonte de Santa Maria (Burgos)
Foi há mais de uma década, numa das minhas viagens ibéricas pelos Caminhos de Santiago, que me cruzei pela última - espero que não a derradeira - vez com esta bonita fonte, próxima da grandiosa Catedral de Burgos.

A catedral - património da humanidade - que é um espanto da arquitectura gótica, tem para mim além de tudo o mais, uma curiosidade extra:

É lá que se encontra o túmulo de um herói de muitas histórias aos quadradinhos, estilo "Mundo de Aventuras" e "Cavaleiro Andante", que eu muito gostava de ler, quando era  "puto".
D. Rodrigo, ou "El Cid, o Campeador", existiu mesmo, um lendário cavaleiro medieval, que teve papel importante nas lutas, pelo domínio da Península, entre cristãos e mouros dos Reinos de Castela, Leão, Navarra, Aragão, Galiza e Astúrias.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Hoje, passo.


Passo, quer dizer, não vou a jogo!
Fico de fora, só a ver jogar... não por receio de perder, mas porque não encontro o mais pequeno interesse que seja, no jogo.
Não me importo absolutamente nada com o resultado.
Não me diz nada, não me entusiasma, o actual jogo da vida - acho que é uma merda - cuja regra básica é a hipocrisia.
«Penso eu, quem ganha é sempre o mesmo - o cinismo.»
Prefiro o jogo pelo jogo - o dasafio puro do acaso, do encontro, à toa, com a sorte ou com o azar.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

a Fonte 328



Terena (Alandroal)
Vila alentejana próxima da "Ribeira de Lucefecit", é dos sítios de que eu gosto muito e sempre achei esquisito e fora do comum "o rio de que seu nome não digo".
Eis uma explicação:
«A etimologia deste estranho e enigmático hidrónimo, ou hidrotopónimo - o único conhecido em território português e, creio, em toda a Península (se não em todo o Mundo) - suscita dúvidas por parte de diversos investigadores, mas de uma forma geral, atribui-se-lhe uma raiz latina, proveniente de "lucifer".
Em toda a Península Ibérica, o único santuário comprovadamente dedicado à divindade indígena conhecida por Endovélico, é o templo hoje dedicado a Nossa Senhora da Boa Nova, situa em Terena, junto à ribeira de Luceféce, ou Lucifécit.
Numa das "Cantigas de Santa Maria de Terena", (séc. XIII, intitulada "Como Santa Maria livrou u ome bõo en Terena de mão de seus emigos que o querian matar a torto, porque ll' apõyan que matara a ssa moller") Afonso X, o Sábio, refere-se a este rio como, "O rio de que seu nome non digo".
Lucifer, começou por ser o "Príncipe da Luz" (Portador da Luz, ou Estrela da Manhã), e acaba, por via de interpolações cristãs, transformado no "Príncipe das Trevas", o senhor do Mal, a origem do erro contra Deus. E por isso é Lucifer, senhor dos demónios, o nome dado à ribeira em cuja proximidade geográfica se eguia o grande templo dedicado a Endovélico, onde se encontrava uma extraordinária abundância de imagens de antigas "deidades" ou que assim foram entendidas pelas populações cristãs - isto é, de "demónios".»
Excertos de um interessante artigo publicado no www.celtiberia.net/.

O Amor em Portugal (4)


("Correio da Manhã" de 25/01/2009) uma inacreditável história de vida:

[Tolerância]
Durante uma rara ida ao mercado, em Argel, Elsa deixou que o crucifixo, que usava por debaixo da camisola, ficasse à vista e o pior aconteceu.
«Apercebo-me da situação e só vejo uns "senhores" com alguma idade, virem direitos a mim. Levei uma sova tão grande com sacas de batatas que fui para o hospital inconsciente. Estive 23 dias em coma.»
[e ela ainda lhes chama senhores..?]

[Igualdade]
Quando se mudou para a Argélia, onde casou com um Mustafa muçulmano, a sua vida transformou-se num pesadelo. Na bagagem levava roupa, que nunca viria a usar, e... um certificado de virgindade, passado pelo médico de família, a única coisa essencial para quem vai dar o nó com um argelino.

[Liberdade]
Durante dez anos, Elsa T. foi proibida pelo marido de sair de casa, de conduzir ou de estender a roupa, porque poderia ser vista por outros homens.

Conseguiu, a muito custo, fugir e hoje recorda a sua história, mas... apesar de tudo, ela não dá razão a D. Policarpo quando este diz que é um perigo casar com um muçulmano. Faria tudo outra vez...

[Masoquismo?] ou [a confirmação do velho adágio: "Quanto mais me bates..!"?]

domingo, janeiro 25, 2009

a ver navios 58


O REGRESSO
..
Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.

Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.

..
(Manuel Alegre)

sábado, janeiro 24, 2009

Amanhecer CLIV


LEGENDA

Como quem sente
na legenda do presente
o fim duma história breve,
vou vivendo um sonho intacto
num pesadelo crescente,
uma luz fecunda e leve
nos olhos pardos dum gato.


(Fernanda Botelho, 1951)

sexta-feira, janeiro 23, 2009

a Fonte 327


Queluz

Ora aqui está, uma espécie de "ligação directa" feita por ordem de sua alteza real, o senhor D. Carlos I, na base de um pilar do Aqueduto das Águas Livres.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

a Idade


Após a subida imparável de não sei quantas dezenas de degraus da íngreme escadaria de um dos maiores monumentos (mais alto, mais largo) da antiguidade Maya, na Península do Iucatão - a acrópole pirâmide "La Torre", em "Ek Balam" - este velho amigo nosso, descansou alguns minutos, para recuperar o fôlego e falou assim:
«Aqui, bem no alto dos meus 60 anos, posso afirmar com toda a alegria, que, não tenho que me preocupar com a idade enquanto puser os sonhos à frente das frustrações!»

Obs.:
Sim, eu sei, mas não quero comparações com os 40 séculos da treta do Napoleão, no alto da Grande Pirâmide de Gizé - é que EU NÃO GRAMO nem um bocadinho, ESSE FIGURÃO da história da Europa.

a ver navios 57

VER MAIOR
Que linda falua
que lá vem, lá vem
é uma falua,
que vem de Belém.

Eu peço ao senhor barqueiro
que me deixe passar.
Levo filhos pequeninos,
não os posso sustentar.

passará,
passará,
mas algum ficará
se não for a mãe na frente
será um filho lá atrás!


(Cantilena base de um antigo jogo e bricadeira de crianças, em Portugal)

quarta-feira, janeiro 21, 2009

O Amor em Portugal (3)


o sal

Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.

(Jorge de Sena)

a Fonte 326


Albarraque

«Também conhecida com a cidade do tabaco é uma aldeiazita manhosa localizada na freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra, mas ninguém lá vai porque não se faz lá nada que tenha interesse.
Quem la mora tenta deseperadamente migrar para Mem Martins, essa sim, uma cidade a sério..?
Alguns mitras(?) rolam por ali na noite, no seu "Saxo Cup" iluminando o pavimento da única estrada alcatroada lá do sítio, com as suas lâmpadas fluorescentes, vermelhas ou azuis, colocadas sob o "chassis".


Esclarecimento
Para evitar possíveis manifestações de desagrado (por parte de Albarraqueiros) contra o autor do Blogue, por causa deste texto, devo dizer que, não fui eu o autor - outro alguém descreveu desta maneira Albarraque, na Wikipedia, como facilmente poderão confirmar.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Um Bolero

AMPLIAR
Un cigarrillo, la lluvia y tú

Un cigarrillo, la lluvia y tú
Me trastornan.

Dejo mis labios sobre tu piel
Me vuelvo loco
La posesión del momento
Ya se olvidó del invierno
Y a la ventana se asoman
Buscando sus brazos muertos
Supieron mirar desde el cristal
Que locura
..


Um clássico (1965) de Alberto Cortez, que se transformou numa recordação residente na minha memória para sempre, desde a época (1971?) em que uma versão deste Bolero, esteve nos tops da nossa rádio.
A palavra exacta - nostalgia ou melancolia?
Não sei, só sei «que me invadia uma tão grande e estranha sensação de paz e ao mesmo tempo ansiedade, quando, naquele tempo, antes de sair de casa para mais um dia de trabalho nos Estúdios do Lumiar, eu parava por alguns momentos à janela, fumando languidamente (gosto da palavra) um cigarro, olhando, por olhar, o movimento na rua molhada de chuva, lá fora, enquanto escutava esta música, no programa da manhã da estação de rádio, sei lá qual.»

Hoje, a manhã chuvosa, o dia de céu carregado e a escrita dos "Alcatruzes da Roda", trouxeram-me estas coisas à lembrança. Então, pesquisei na Net e consegui ouvir um bocadinho de uma versão da música - «o efeito? Quase igual a "dantes"...»


segunda-feira, janeiro 19, 2009

Velhices


Aniversário

Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.

(F. Pessoa)

a Fonte 325


Janas (Sintra)

Fontanário e lavadouro público da pequena aldeia histórica, onde se situa a Capela (redonda) de S. Mamede, junto à "Ribeira de Janas", «habitada pelas Fadas dos Rios».

Janas
«Mulheres de baixa estatura, invisíveis, fiando um linho muito fino e sem nós. Acredita-se que, se deixar na lareira o linho acompanhado de dádivas - pão e vinho - este linho será fiado pelas janas durante a noite.»Sardoal, Portugal.

Janas
«Belas mulheres loiras e de olhos azuis, que vivem nos rios das montanhas, fontes e grutas e passam a maior parte do tempo pentear-se com pentes de ouro. São bondosas com os que as ajudam, mas rancorosas e vingativas com os que invadem seus domínios.»
Astúrias e Galiza.

Janas
Investment Bankers and Management Consultants, providing services in the following areas:
Mergers and Acquisitions, Corporate Finance, Management Consulting.
Pasadena, California.

sábado, janeiro 17, 2009

a Fonte 324


Esta, tem andado por aqui esquecida, misturada nos ficheiros, muitos, no disco fixo do meu computador.

Já faz um ror de tempo, que passei pelo lugar; na Primavera, ou princípio de Verão.

O nome da terra "caiu-me no goto" - ficou na memória de coisas de que gosto, sem saber muito bem porquê - gosto do som, gosto das palavras e pronto: AVELÃS DE CIMA (ANADIA).

Amanhecer CLIII


Hoje, quero ser diferente
Sentir-me apenas um só
No meio de toda a gente
Como mais um grão de pó.

Ter apenas uma alma
Menos coisas a esquecer
Viver uma vida calma
Porquê, andar a correr?

sexta-feira, janeiro 16, 2009

a ver navios 55



«QUEM VAI AO MAR, PERDE O LUGAR.»

acontece...


Sensation

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…
Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohémien
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!


(A. Rimbaud, 1870)

quinta-feira, janeiro 15, 2009

a Fonte 323



O tempo feio destes primeiros dias do ano - dias cinzentos, escuros, frios, chuvosos - em que nem apetece sair à rua, faz-me sentir saudades desta fonte.

Junto a ela, eu não fui beber água, só Tequila ou Cerveja, conforme a hora do dia, ou da noite.
Ela faz parte da decoração de "La Casita", o bar/restaurante mais próximo (a 100 metros) do que foi o meu apartamento, de alguns dias, nas Férias de Natal, junto ao Mar das Caraíbas, na terra dos Mayas.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

terça-feira, janeiro 13, 2009

Coitado do Passarinho


O fidalgo, enquanto aguardava pelo Rei, deu meia dúzia de passos no vasto salão da Casa da Mina, olhando para o rio acanhado de naus e caravelas e foi encostar-se a uma das janelas viradas ao sul, contemplando o movimento dos pedreiros nas obras dos Jerónimos, à beira-Tejo.
D. Diogo Pacheco, já mal se recordava da capela que existira no local, mandada erigir pelo Infante D. Henrique em honra de Nossa Senhora de Belém e do antigo bairro de marinheiros e pescadores que a rodeava, dando cor e vida aquele espaço, até à sua demolição, por decreto régio de de 23 de Junho de 1496.
- Em que meditais? Acaso vos desagrada a magnificência da obra que daqui vedes? - perguntou irónico, o Monarca, acabado, de entrar silenciosamente no salão.
- É muito bela, meu rei e senhor! - respondeu o fidalgo, fazendo uma vénia perante a simiesca figura de El-Rei D. Manuel - Em cada dia que passa mais grandiosa fica.
- Então qual o motivo para o vosso semblante tão carregado? Que vos atormenta o espírito, meu leal súbdito? - inquiriu o cognominado Venturoso, enquanto se sentava na sua sédia real.
- Oh, nada de especialmente grave. Nada que justifique a preocupação de vossa senhoria. - retorquiu o fidalgo, sentando-se junto ao Rei, num banco de pinho. - Estava só a pensar naquele pobre passarinho que o nosso velho cronista "O Fotociclista" ali postou, já faz um ror de tempo. Até quando será, que o desgraçado vai resistir ali sozinho, pendurado ao frio?

[um bocadinho (adulterado, o José Manuel Saraiva perdoa-me) do romance "Aos Olhos de Deus"]

sábado, janeiro 10, 2009

Amanhecer CLII


Aí está ele, prontinho para sair de casa - "ala, que se faz tarde" - em busca do pequeno-almoço.

Não sei como é que o passarinho consegue voar, com um frio destes, chiça! Manhã cedo, 2º Graus Celsius, na rua.
Ah, talvez o bicharoco seja um Pardal Americano e então vem equipado com um termómetro com a escala Fahrenheit - para ele estão 36º F.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

anti-coisas


Uma receita para as coisas deste tempo frio, desengraçado.
Para combater a gripe, a constipação e o resfriado.
Mitigar os sintomas da dor-de-corno e o mau olhado.
Aliviar os penosos estados de solidão e depressão.
Tratar achaques relacionados com coisas do coração,
como a desilusão, a angina de peito e a frustração.
Nada melhor que uma "Cucaracha" bem quentinha.
Uma dose (que são duas) que deve beber-se de uma assentada, como um "shot" e enquanto a chama estiver acesa.
Utiliza-se uma palhinha para sugar a bebida (uma de cada vez, claro) desde o fundo do copo, o mais rápido possível, antes que o fogo a derreta.
Depois, é cantar, «la cucaracha, la cucaracha, já no puede camiñar...» e esquecer... o resto.

a ver navios 64



barcos, veem e vão
alguns voltam
e outros não;
partem na insegurança

na dúvida do regresso

quando chegam
descarregam esperança

com que se faz o progresso

e serve para quê?
ora, não sei.
e escrevo porquê?
dito isto, acabei.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

O Linho e a Estopa


Os 12 trabalhos do linho

  1. Semear: na primavera, no fim de Abril ou Maio;
  2. Arrancar: em Junho a planta sempre pela raiz;
  3. Ripar: separar do caule a "baganha" (semente);
  4. Enriar: as manadas de linho ripado, apertadas em molhos, são colocadas no rio, para fazer a curtimento;
  5. Secar: quando retirado do rio é colocado em molhadas, a secar ao sol, por quinze dias;
  6. Malhar: uma vez seco, estende-se o linho na eira, onde é batido com "malhos";
  7. Macerar: moer num engenho formado por um tambor rotativo canelado em que engrena uma série de roletas;
  8. Espadelar: o linho é batido com um cutelo de madeira, chamado "espadela", em cima de uma tábua, chamada espadeladouro;
  9. Assedar: depois de limpas as fibras são separadas por comprimentos e espessuras. As mais longas e finas formam o linho, as mais curtas e grosseiras, a estopa.
  10. Fiar: a fiação do linho faz-se nos últimos meses do ano. Pode ser feita com a roca e o fuso, ou com o auxilio da roda de fiar;
  11. Barrelar: antes de dobrar e tecer as meadas é necessário branqueá-las, embebendo-as em água com cinza dissolvida;
  12. Dobrar: finalmente (antes de tecer) o fio das meadas é dobrar para novelos, utilizando-se para isso a "dobadoura".

quarta-feira, janeiro 07, 2009

a Fonte 322


FONTE DAS LÁGRIMAS

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.

O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores!

Le chat



Viens, mon beau chat, sur mon coeur amoureux;
Retiens les griffes de ta patte,
Et laisse-moi plonger dans tes beaux yeux,
Mêlés de métal et d'agate.

Lorsque mes doigts caressent à loisir
Ta tête et ton dos élastique,
Et que ma main s'enivre du plaisir
De palper ton corps électrique,

Je vois ma femme en esprit. Son regard,
Comme le tien, aimable bête,
Profond et froid, coupe et fend comme un dard,

Et des pieds jusques à la tête,
Un air subtil, un dangereux parfum,
Nagent autour de ton corps brun.


(C. Baudelaire)

terça-feira, janeiro 06, 2009

a Fonte 321


Vale do Jamor, Oeiras.

Hoje é dia de regressar aos treinos.
Faz tanto frio aqui, ao fim da tarde, que a água deste chafariz está quase a congelar, faz doer os dentes.

a ver navios 54


A força verde no mar azul.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Piedades


Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Serra, em Almargem-do-Bispo, desde há 250 anos um lugar, de romaria popular.

Um grupo de marinheiros ingleses mandou erigir num dos pontos mais elevados (280 metros acima do mar) do Concelho de Sintra, (em 1758) uma capela, em paga de uma promessa feita à Padroeira da sua Esquadra Naval, quando se encontravam em perigo de vida, no meio de uma grande tormenta, ao largo da costa Oeste.

«In the middle of the XVIII century Royal Navy sailed along the coast of Ericeira, when it was surprised by a strong storm. They felt lost and evoked his faith in Nossa Senhora da Piedade, saint protectress of his fleet. They have done well the promise of building a chapel at the highest point in return for their salvation.»

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Do outro lado do Atlântico (no Brasil), os Bandeirantes, mandaram construir (em 1760), no ponto mais alto da Serra da Piedade, um Santuário semelhante, também dedicado a Nossa Senhora da Piedade, a Padroeira de Minas Gerais.

«A Serra da Piedade, é cercada por enormes penhascos, rochedos gigantescos e uma vegetação típica de montanha. Bromélias, orquídeas e hortências estão por toda parte e garantem ainda mais a beleza do lugar.
Do alto de seu cume de 1746 metros, é possível ver uma exuberante paisagem e avistar as cidades mais próximas: Belo Horizonte, Caeté, Lagoa Santa, Raposos e Sabará. Além disso, é da Serra da Piedade onde é possível observar os mais belos pôr-do-sol do estado, que se descortinam diante dos nossos olhos num horizonte multicolorido sem fim. A luz do crepúsculo "varre" as montanhas e salienta suas formas e texturas, decifrando assim, o famoso "mar" de Minas.»

domingo, janeiro 04, 2009

Jet Lag


Estou a recuperar do chamado "jet lag" da viagem de férias de Natal.
É preciso reajustar o meu ritmo circadiano para 6 horas de diferença.

(Seis horas e vinte e tal graus.)

sábado, janeiro 03, 2009

a Fonte 320s


Depois dos "navios", mais uma recidiva: a série das "fontes", também vai continuar.

Prossegue com
uma fonte-cisterna de água do velho castelo, sobre a qual estão outras duas fontes;
duas fontes que às vezes fazem nascer a água nos meus olhos, a maioria das vezes de alegria (graças aos céus!); mas também são fontes de preocupações, de cuidados - como se diz, "nascem com eles, os meus cabelos brancos, crescem com eles, as minhas rugas"; mas compensam quando outras tantas vezes, são as minhas fontes de orgulho.
São as fontes de juventude - o princípio e o fim da juventude - 10 anos e 20 anos.
São as fontes de ternura - estar próximo deles, ainda que, por vezes, invisível, é reconfortante:
- quando à noite passo a minha mão ao de leve pela cabeça de um para o sossegar durante um sonho agitado, resultado de um dia mais atribulado na escola;
- quando vou tapar os ouvidos dela com as minhas mãos, enquanto ela esconde a cara de encontro ao meu pescoço, para não ver nem ouvir a trovoada.

Amanhecer CLI


O despertar no regresso a Portugal.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Gato crepuscular


Gato no Crepúsculo

Cai o sol sobre o mar.

E nas sombras de mais uma noite,
Enquanto no céu os aviões
Acendem suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as diferenças raciais.

Da janela da tarde olho os banhistas tardios
Enquanto, junto ao muro do quintal,
Os gatos todos vão ficando pardos.


Millôr Fernandes

quinta-feira, janeiro 01, 2009

a ver navios 53


Há muita gente que, como eu, gosta de fotografar barcos, por isso esta série, vai continuar.

Vejam-me aqui esta "piquena" habilidosa: para fotografar um Cacilheiro, ela colocou-se numa situação verdadeiramente perigosa - sobre a amurada de um cais do Tejo a uma altura bastante grande por cima da água - ao mais pequeno deslize... pimba, tem direito a um mergulho na maré cheia, num local do rio de onde é muito difícil nadar por causa dos remoinhos.
Ela me faz recordar "ma chère amie Cristina - un salut à Bruxelles!"

Poema Esquecido

Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...