terça-feira, janeiro 31, 2012

Reflectindo e Refletindo



Sentado fora do mundo
Esquecido desde quando,
Olhar fixo no sobrado
Reflectindo,
Entre adormecido e desperto
O pensamento vagueando
Perdido no tempo deserto
Algures entre o passado
E o nada, que é o futuro,
Refletindo:
Vivo, ou estou enganado?

segunda-feira, janeiro 30, 2012

a fonte 607


Nada de importante há para dizer deste chafariz, no passeio da Praia de Carcavelos.
Deita água - por enquanto - e mais não sei?

Lá terá, possivelmente presenciado uma ou outra história - ao jeito das cenas de telenovela das tardes de televisão, ou de folhetim radiofónico, ou de crónica mundana de coluna social de jornal - coisa própria dos tempos modernos.
Testemunha impassível de humanos encontros e desumanos afastamentos, memoráveis para os protagonistas que ficaram certamente com algo para recordar e contar:
pequenas histórias vividas junto ao mar, no extenso areal desta bela praia da Costa do Estoril.
Também eu, ao passar por aqui nas minhas voltinhas de bicicleta, recupero memórias e revejo-me desempenhando o papel principal em episódios de filme - quase sempre, felizmente, tragicomédia - de cinema mudo.

sábado, janeiro 28, 2012

Amanhecer CCCIV



Bucólico,
este bocadinho de paisagem, com o arvoredo a recortar o verde que reveste as margens do arroio em cujas águas calmas se percebem reflexos de azul do céu e de paredes brancas de uma casa, faz-me lembrar lugares por onde andei a passear há alguns dias - os meandros da Ribeira de Nisa, na Serra de S. Mamede.
Mas este lugar fica bem distante da raia alentejana. É no vale do Jamor, um rio que nasce na Serra da Carregueira e desagua na margem direita do Tejo, na Cruz Quebrada. De caminho ele passa por Belas, por Queluz e passa sobretudo pela minha vida.

Em Belas,
o Jamor atravessa a Quinta do Senhor da Serra, que, antes de ser Quinta dos Marqueses de Belas, pertenceu a Diogo Lopes Pacheco - um dos três algozes de Inês de Castro, o único que escapou com vida à vingança de D. Pedro. O rei confiscou, na altura, todos os bens dos Pachecos e converteu esse lugar em Paço Real.
Aqui, junto a um dos portões da quinta, na margem do rio, encontra-se um dos mais belos (e desconhecidos) obeliscos do nosso país - foi descuidadamente escondido sob um viaduto da CREL.
Em Queluz,
o rio atravessa a quinta do Palácio Nacional de Queluz, outro "condomínio" da idade de ouro da realeza nacional, talvez o mais importante de todos, pois que, ainda hoje é utilisado pelos Chefes de Estado (republicanos) para banquetes e recepções oficiais.
Aqui, junto a um dos portões do jardim, encontra-se uma das mais famosas (e concorridas) estradas do nosso país - a IC19 - da qual praticamente toda a gente já ouviu falar.
Em Queijas,
o rio passa pelo Santuário da Senhora da Rocha, um importante lugar de peregrinação desde que, nos princípio do século XIX, se encontrou numa gruta na margem do Jamor, uma pequena imagem em barro, representando Nossa Senhora da Conceição, então Padroeira do Reino. Ainda hoje se realiza a romaria anual da Senhora da Rocha.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

A ver navios 120



Aqui estou eu, mais uma vez,
sentado a ver passar o tempo
num dos mais bonitos estuários da Ibéria.
À beira do rio Sado, na baía de Setúbal,
recordando a velha canção do Otis Reding:

"Sitting on the dock of the bay
Watching the tide roll away
I'm just sitting on the dock of the bay
Wasting time.."

quinta-feira, janeiro 26, 2012

O tal dia


Quinta-feira,
(o dia que devia apagar da minha semana)

É sempre a mesma coisa, uma tristeza.
Já nem sei mesmo o que hei-de fazer...
Talvez tomar alguma droga qualquer
para passar todo o dia desacordado,
pois faça eu o que fizer, sai errado;
nesse dia tudo sai mal, é uma certeza.

O dia de hoje não foi excepção:
Saí à rua para comprar o jantar.
Fui de carro para me resguardar
Do tempo chuvoso e vento gelado.
Ora gaita, fiquei uma hora parado
No meio trânsito - uma confusão.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

a fonte 606



Évora
Chafariz de três bebedouros/torneiras,
com escoamento para um pequeno tanque, hoje seco, mas que já teve peixes.
Lá ao fundo, podem ver-se as "Ruínas Fingidas".
Uma construção cenográfica típica do romantismo do séc. XIX, projecto do arquitecto-cenógrafo italiano Cinatti.
Aproveitando uma torre e um troço da muralha medieval do séc. XIV pre-existentes, acoplaram-se outros materiais arquitectónicos provenientes das ruínas de vários monumentos civis e religiosos da cidade, com especial relevo para os elementos de janelas geminadas de estilo manuelino-mudéjar.

terça-feira, janeiro 24, 2012

A Paragem



Por aqui passa o tempo,
já não passa o comboio.
Outrora
o comboio de passagem,
é que marcava o passo
do tempo, a compasso
aqui por esta paragem.
Agora
a estação sem comboio
vai ficar parada no tempo.

(Estação de fronteira do Ramal de Cáceres)

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Porta Judia



Judiaria de Castelo de Vide

Para que a vizinhança não tivesse dúvidas acerca da classe dos proprietários desta casa
cuja porta não respeita o tradicional formato em arco ogival,
lá estava o símbolo da tribo de Judá - o brazão com dois leões.

domingo, janeiro 22, 2012

A fonte 605



República Dominicana

Memória de uma viagem pelas Grandes Antilhas, no Mar das Caraíbas.

No lado nascente de "La Hispaniola", aquilo que mais impressiona são os contrastes.
Notáveis os indícios do combate entre a natureza e a civilização - os avançoes e recuos da ocupação humana destes lugares - e os extremos da condição social - o convívio pacífico entre a pobreza inexplicável e o luxo desnecessário.

sábado, janeiro 21, 2012

Amanhecer CCCIII


CASTELO DE VIDE
Hoje, ao registar mais um amanhecer do Fotociclista "Nas Rodas do Tempo", reparei no número.
Caramba, já são 303, as vezes que venho aqui espetar com uma fotografia e remoer meia dúzia de linhas com umas quantas frases.
O texto, muitas vezes, não diz nada, é conversa fiada. Outras vezes fala de mim, ou do ser que dentro de mim agita as águas turvas do pensamento, fazendo afluir à consciência coisas (que se podem chamar ideias) que transbordam para o mundo das letras - coisa esquisita esta.
A fotografia, por vezes fraca, é só para encher. Outras vezes (sem modéstia) a maior parte delas, acho bonita, eu gosto de ver.

No princípio as imagens, eram quase sempre do mesmo lugar (Colares, Sintra), mas o tempo tudo muda e eu não fujo à regra, por isso comecei a diversificar os lugares do meu despertar aos Sábados. É uma estranha condição - percebo que, cada vez mais, alguma coisa em mim procura contrariar a tendência para a rotina.
A natural aquisição de hábitos - os cheiros, a luz, os sons - a repetição dos dias, semana após semana, mais um mês, um ano... à medida que vamos envelhecendo, ficamos menos rsistentes, ganhamos mais receios, encontramos protecção na estabilidade. O objectivo então é evitar o mais possível as surpresas - daí a agradável sensação de conforto do lar.

Viajar é romper com a rotina, ir à procura de novidades, coisas para descobrir, desafios novos pela frente em cada dia e em cada noite, desequilibrar a imaginação com a incerteza.
A incerteza, o inesperado, o desconhecido - os sais da vida, incentivos para o progresso do Homem.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Aprender a esquecer (1)


«Aprender até morrer.»
Diz o povo, como sempre, com alguma razão.
Quem não consegue aprender, está morto para o mundo, ou está morto para a vida.
Mas quando se fala em aprender, neste caso, não é só adquirir conhecimentos relativos à cultura, às coisas da escola, as letras, as ciências e por aí fora.
Mais do que isso tudo, é assimilar e guardar para mais tarde recordar a experiência (toda) da vida.
Quem não consegue aprender, querendo, é porque sofre (pensamos nós) de alguma forma de bloqueio intelectual - de ordem físiológica ou emocional.
Mas também se pode dar o caso de, simplesmente não querer..

quinta-feira, janeiro 19, 2012

a fonte 604


Castelo de Vide

Ainda mais esta, na subida (ou descida)
para a porta nascente, do castelo
em Castelo de Vide, há sempre outra fonte...

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Trovas antigas



A torre alta de Marvão
Escuta o murmúrio dos céus
E diz baixinho, aos que estão,
O que ouve dizer a Deus.

(José Amaro)

terça-feira, janeiro 17, 2012

a fonte 603



Nem mesmo esta Fonte da Vila,
um ex-libris de Castelo de Vide,
escapa aos avanços da modernidade.
O espaço em redor atravancado de automóveis
e o já famoso e indispensável letreiro,
"ÁGUA NÃO CONTROLADA"
que é como quem diz - é melhor não beber.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Autoretrato 38



Tudo se me evapora.
A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora.
Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro.
Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário.
E aquilo a que assisto sou eu.

("Livro do Desassossego" de Bernardo Soares)

domingo, janeiro 15, 2012

A Fonte 602



URRA
Não é somente o tradicional grito de euforia das praxes académicas:
«EFERREÁ ...Fá, ...Fé, ...Fi, ...Fó, ...Fú CHIRIBITATATATA, CHIRIBITATATATA, URRA! URRA! URRA!»

URRA
É também o nome de uma freguesia do Distrito e Concelho de
«Portalegre Cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros..»
(como escreveu José Régio).

Em Urra,
tropecei nesta fonte, homenagem a um tal Mira Godinho, personalidade cuja importância local, lamento, que me desculpem os vizinhos, mas não tive tempo nem ensejo para investigar.
Por coincidência, esse era também o nome de um Assistente de Realização, com quem trabalhei na "velha" RTP.
Em Urra,
frente a esta fonte, no Restaurante d'O Álvaro, serve-se a boa comida tradicional Alentejana:
Pezinhos de Tomatada, Cabrito ou Borrego ensopado, Lacão ou Bochechas assadas no forno, enfim... é "encher a mula" e regar tudo com o excelente tinto Casa da Urra.

sábado, janeiro 14, 2012

Amanhecer CCCII



Évora
Palácio de D. Manuel, no jardim da cidade.

Não fora o cheiro intenso da relva acabada de cortar
e a temperatura do ar, fresco nesta manhã de Inverno,
eu diria que ainda estava lá longe, do outro lado do mar,
num qualquer lugar das Antilhas, terra de calor eterno.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Autoretrato 37

 

Velho espelho pendurado 
nessa parede do fundo, 
"Diz-me tu, espelho meu, 
que faço eu neste mundo?" 
O espelho nada respondeu 
mas ficou todo embaciado. 

quarta-feira, janeiro 11, 2012

a fonte 601


Chafariz do Rossio de S. Brás (ÉVORA)

Na segunda terça-feira de cada mês, são as carrinhas e as tendas dos feirantes que abancam em redor do chafariz.
Durante os restantes dias do ano, são os comuns automóveis particulares que ocupam todo o espaço do Rossio, o terreiro de feiras da cidade.
São contraditórias as informações acerca da construção deste monumento de arquitectura civil.
Há registos da permissão concedida por D. Manuel I a um munícipe para a construção de um poço no Rossio em 1497, posteriormente transformado em chafariz público em 1501. Outras informações apontam para o ano de 1592, a mando de D. Filipe II.

Seja como for, "nem água vai, nem água vem" das bicas deste monumento que
«se encontra em processo de classificação como Imóvel de Interesse Público, desde 2007 integrado no conjunto de fontes e chafarizes, urbanos e peri-urbanos de Évora, este é um chafariz com figurações maneiristas, patentes na estilização dos elementos arquitectónicos, com notáveis características ornamentais, de que é exemplo a taça com original desenho em forma de cálice de flor.»

terça-feira, janeiro 10, 2012

a Feira


É Terça Feira

É terça-feira
e a feira da ladra
quase transborda
de abarrotada

E a rapariga
vende tudo o que trazia
troca a tristeza
pela alegria

E todos querem
regateiam
amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições


É terça feira, hoje está em Évora, no Domingo em Castelo de Vide e depois em Monforte e por aí fora... lá está a rapariga (do Sérgio Godinho), uma figuraça de mulher cigana, de pé sobre o estrado das camisolas, como se fora o palco, alteando a voz, bem ao estilo das vedetas do Teatro de Revista do Parque Maier de Lisboa:

«E é p'rácabar, ó minha gente. Hoje é tudo a seis érios. Ist'aqui é mais barato có Pingo Doce! Aiii, pró senhor, chegue-se cá, são cinco truces bem ajustinhas, à medida, por seis éros.»
E eu comprei, até estava a precisar...

domingo, janeiro 08, 2012

a fonte 600


Castelo de Vide

Uma fonte colada na parede exterior da (se não me engano) Igreja de S. Tiago.
Lamento não ter conseguido evitar que os automóveis ficassem na imagem, mas hoje é mesmo assim, encontramos carros estacionados por tudo quanto é lugar. Em qualquer cidade e vila, grande ou pequena, é igual.
É claro que não podemos mandar os carros embora para longe da vista, mas as autarquias podiam pelo menos, procurar soluções para regular da melhor forma o estacionamento nas zonas urbanas de interesse histórico e turístico.

Os nossos "carrinhos" são um estorvo na paisagem mas... o que se há-de fazer, eles fazem-nos falta. Podíamos viver sem eles? Pois, evidentemente que podíamos, mas não era a mesma coisa - acho eu, que seria bem mais complicado.
Se eu não tivesse (como tenho desde os meus 20 anos) um automóvel particular, muito provavelmente, não estaria agora de passagem por esta região do interior que muito aprecio.
Vou poisar por alguns dias, mais uma vez (a "enésima" vez) na Sintra do Alentejo.

sábado, janeiro 07, 2012

Amanhecer CCCI



Rever este registo de uma manhã de um calmo e claro dia passado nos claustros do velho Convento quinhentista, onde já esteve instalada uma Fábrica de Cortiça e hoje se encontra o Museu Minicipal de Faro, traz-me à lembrança um escrito de Camões:

Mundo

Enfim, mundo, és estalagem
em que pousam nossas vidas
de corrida;
de ti levam de passagem
ser bem ou mal recebidas
na outra vida.


("Cartas" de Luís Vaz de Camões)

quarta-feira, janeiro 04, 2012

a ver navios 118



Menina em teu peito sinto o Tejo
E vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
De água doce que corre sem parar
Menina em teus olhos vejo espelhos
E em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
Rijo e tenro que nem sei explicar
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero te tanto
Que não vai haver menina para sobrar.


("Menina Dos Olhos De Água", Pedro Barroso)

terça-feira, janeiro 03, 2012

a fonte 599


Évora
Largo do Colégio e Igreja do Espírito Santo,
depois pela R. da Freiria de Baixo, R. do Cenáculo, Portas de Moura, etc.,
um passeio no fresco da noite para desentorpecer as articulações e reactivar a circulação do sangue, relentada pelas horas passadas no conchego do chaminé junto ao borralho do lume de azinho.
No sossego da noite alentejana, «no interior, felizmente», dizia o amigo Zé, «ainda distante do bulício das terras do litoral».
«Apesar das boas estradas e da grande autoestrada que hoje ligam todas as cidades do interior, aqui ainda podemos passear na rua pela noite dentro, sem grandes temores, sem recear-mos ser alvo de actos de malvadez.»
«Por enquanto... pró bem e pró mal, por enquanto estamos um bocado afastados, esquecidos, esquecidos dos políticos e de outros vândalos que tal.»

segunda-feira, janeiro 02, 2012

A VER NAVIOS 117



ali a ver navios fiquei
a vê-los passar ao largo
naquele dia em que voltei
a sentir um sabor amargo

domingo, janeiro 01, 2012

a Fonte 598


ÉVORA

E passando do calor Caribenho directamente para o calor Alentejano,
estamos Évora, na Praça do Giraldo, onde hoje a fonte é de calor.
Calor que, tal como a água, também é origem da vida.
Na noite de Fim de Ano, a festa teve lugar á volta da fogueira.Este ano, não foi o fogo de artifício, lá nos ares, o responsável pelo invulgar ajuntamento das pessoas neste largo da cidade património da Unesco.
Desta vez foi o fogo do braseiro, ali no chão, que fez acorrer o pessoal à rua, na noite fria da grande planície. Foi o calor do tradicional madeiro que aqui se manteve aceso desde o Natal até ao Ano Novo - sem dúvida alguma, muito mais quente e duradouro do que os cinco ou dez minutos do costumeiro fogo-de-vista.

Poema Esquecido

Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...