terça-feira, janeiro 31, 2006

o abandono



Estou entregue à bicharada! Não sei como vou continuar?

Faz dois dias que estou a adiar qualquer coisa, que não sei bem o que vai ser?
E agora, mais outro dia.
Não vou escrever... ainda, ou talvez nunca?

o passado


Estou passado! De tal maneira... que nem sei mais o que dizer?
--
O tempo divide-se em dois rios:
um corre para trás, devora
o que vives, o outro
vai contigo adiante
vasculhando a tua vida.
Num só minuto se juntaram.
É este. Este é o momento,
a gota de um instante
que arrastará o passado.
É o presente.
Está nas tuas mãos.
Rápido, resvalando,
cai como uma cascata.

(Ode ao Passado, Pablo Neruda)

segunda-feira, janeiro 30, 2006

o Cacilheiro


(Cacilheiro do Tejo)

Todos moram numa rua
a que chamam sempre sua
mas eu cá não os invejo
o meu bairro é sobre as águas
que cantam as suas máguas
e a minha rua é o Tejo

Certa noite de luar
vinha eu a navegar
e de pé junto da proa
eu vi ou então sonhei
que os braços do Cristo-Rei
estavam a abraçar Lisboa.

Sou marinheiro
neste velho cacilheiro
dedicado companheiro
pequeno berço do povo.
E navegando,
a idade vai chegando
o cabelo branqueando,
mas o Tejo é sempre novo.

(Fado do Zé Cacilheiro, Fernando farinha)

a Neve



Cai neve, cai neve!!!
A neve é assim, a neve é assado,
Há neve aqui, neve acolá, bla, bla, bla...
Pffff... grande coisa! Grande excitação.
Estes humanos são cá umas encomendas..!

domingo, janeiro 29, 2006

Mulheres



O corpo das mulheres alimenta-se de carícias como a abelha de flores.

La chair des femmes se nourrit de caresses comme l'abeille de fleurs.
(Anatole France)

sexta-feira, janeiro 27, 2006

a Gripe


(Jimy Hendrix, constipado)

Sátira aos Homens com Gripe

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas,. creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisasna e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

(António Lobo Antunes)

meia dose


(Pesca nas arribas, Azenhas-do-Mar)

Se for mal escrito - meia doze - podemos pensar que se trata de meia dúzia, o que não é bem a mesma coisa se refere a carapaus fritos ou sardinhas assadas.
Meia dose de sardinhas assadas com batatas e salada (com pimentos, convém nunca esquecer os pimentos na salada para acompanhar sardinhas assadas) devem ser aí umas 5 sardinhas; se falarmos em meia dúzia, então já podem ser 6 ou mais, conforme a região do país; se for ali em Sesimbra na doca pesca quando as traineiras descarregam o resultado da faina, a bela sardinha de Sesimbra, podemos pedir:
- "ó mestre, arranje-me aí meia dúzia de sardinhas para um petisco"!?
E o mestre (isso era dantes) pega numa "mancheia" (o que normalmente são duas mãos em concha) de sardinhas à toa e sem contagem nem pesagem despeja-as para dentro do boné que a gente lhe estende.
Mas se falamos, por exemplo, de febras, a coisa já é bem diferente, uma dose costumam ser 5 e meia dose são normalmente 3, o que matematicamente não está nada bem, mas é mesmo assim e não há nada a fazer.
Apesar de tudo, agora temos sempre em todo o lado um Livro de Reclamações para escrever um protesto em relação a estas contas, mas penso que não adianta grande coisa, porque acho que ninguém vai ler.
E se por acaso alguém ler, provavelmente vai perceber tanto como quem está a ler este "post" e talvez até quem está a escrever, que já não sabe a que propósito é que veio esta conversa toda: esqueci-me!?

quinta-feira, janeiro 26, 2006

a Massa


(Relógio-pelourinho, Trás-os-Montes)

Benção da Massa do Pão

São Vicente te acrescente,
São João te faça pão
Por poder de Deus e da Virgem Maria,
Padre Nosso e Avé Maria.

São Mamede te levede
São Vicente te acrescente
Eu a comer e tu a crescer
Deus te ponha a virtude,
qu’eu da minha parte fiz o que pude.

(Reza, Tradição Popular)

para outro


(não é para mim)

Para o Luís

Não te rias do cerimonial
dos graúdos.
Eles conhecem a moral
e os usos.

Mesmo ridículos, são temíveis.
Perpetuam as formas.
Eles não gostam dos esquivos.
Cumpre as normas.

A norma é forma, já o sabes,
mas aprende, também,
que uma forma, adoptada,
tem o que tem.

E se, a tal caminho,
não quiseres aceder,
põe Lianor, na fonte,
a render, a render.

Esquece a Bárbara e os outros
amores de redenção.
Luís, tu que és dos loucos,
escuta a voz da razão.

E a razão, a mais prática,
bem te diz que desistas
e aprendas a gramática
videirinha dos dias.

(Alenxandre O'Neil)

o Estaminet


(Descrevendo um "estaminet", a frase e o poema que seguem, não são de Jacques Brel, mas fazem-me lembrar algumas das suas canções.)

Le fou-rire qui accompagne des parties de "toupie" ou de "poire", jeux flamands disponibles dans bon nombre d'estaminets, vous obligera à revenir dans ce plat pays pour disputer la belle. Vous serez toujours les bienvenus...

C'est un lieu qui piétonne,
au coeur de la cité,
où l'on vient, à la source
s'enivrer d'amitié...
Ce choeur de la ruelle,
bat un rythme effréné
qui guide nos pas...
jusqu'à L' Estaminet!

(Dodane)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

o Ocaso


(Ruínas sobre a Praia da Aguda)

Momento Sagrado

...a população da cidadela concentrava-se em silêncio no troço da muralha virado para o estuário e o oceano. Comecei a sentir-me inquieto, pois não sabia se aquele era algum dia especial em que a nossa simples presença, fosse um sacrilégio.
Felizmente, Arduno, que já viajara pela costa ocidental, lembrou-se a tempo e erguendo os olhos para o céu, murmurou:
"É isso... o Sol. Está a aproximar-se o pôr-do-sol".
Para muitos povos da costa, o momento do ocaso é sagrado e considerado com receio. Eles vêm a divindade solar mergulhar nas águas do profundo oceano e temem que o seu fogo se extinga para sempre. Então é preciso guardar silêncio e orar pelo regresso do deus Sol.
Por isso, juntámo-nos aos Cetobriguenses e participámos na prece. Depois...

("A Voz dos Deuses", romance histórico de João Aguiar)

viver sem fumar II


(Azenhas-do-Mar, Jan.2006)

...tópicos da parte II
  • o jantar no Ristorante Pasta Não Sei Quê?
  • a empregada de mesa, linda, tranças louras, voz doce, suave...
  • o pensamento alto, o amigo psicólogo do tratamento Não Fumo Mais...
  • a conversa, o fio da conversa, a quase intimidade súbita, expontânea...
  • a comunicação, os Fios, os Postes dos Fios, a Paisagem nas Azenhas-do-Mar, a merda dos postes e dos fios, sempre...

Rio acima

(Forte na Barra do Tejo, Paço-de-Arcos)

Continuando nosso caminho por este rio acima,
tudo quanto a vista alcançava era embarcações com toldos de seda e muitos estandartes, guiões e bandeiras e varandas pintadas de diversas pinturas. Ali se trocam e oferecem todas as sortes de caças e carnes quantas se criam na terra, que nós andávamos como pasmados como requeria tão espantosa e quase incrível maravilha.
Noutras embarcações vêm grande soma de amas para crianças enjeitadas e outras, pelo tempo que cada um quiser, mulheres velhas que servem de parteiras dando mézinhas para botarem crianças, e fazerem parir ou não parir. Noutros barcos há homens honrados que servem de correctores de casamentos e consolam mulheres enlutadas por morte de maridos e filhos e outras coisas desta maneira.
Em barcaças de muitas cores, com invenções de muitos perfumes e cheiros muito suaves vêm homens e mulheres tangendo em vários instrumentos para darem música a quem os quiser ouvir.
(Peregrinação de Fernão Mendes Pinto)

terça-feira, janeiro 24, 2006

o Amor


(Massamá, Outono 2005)

o amor é um pássaro azul
num campo verde
no alto
da madrugada

(definição de Víctor Barroca, aos 9 anos)

viver sem fumar

(Azenhas-do-Mar, Jan. 2006)

1.a) Num dia mais ou menos recheado de emoções, não consegui muito tempo, nem a disposição adequada, para escrever ou procurar um poema ou um texto para publicar.
Reli, apenas para mim, alguma poesia inédita de minha Mãe, para recordar que teria sido também ontem o dia do seu aniversário, se fosse viva.
Por isso, não chamei hoje para aqui nenhuma poesia.
1.b) Ao longo do dia, que será sempre, para mim, um misto de alegria e tristeza, dei comigo diversas vezes a pensar - e até pensei alto durante o jantar - o seguinte:
  • afinal consegue-se deixar de fumar e sobreviver!
  • e depois, até se consegue viver sem fumar!
  • como dizem os sociólogos - "o homem é um animal de hábitos" - adquirir o hábito de não fumar é a solução, pois claro!

Já o mesmo não se passa com a comunicação - isso é que é tramado, já não consigo passar uns diazitos sem vir aqui ao Blog escrever (e ler) alguma coisa para (e de) a gente amiga que se debruça sobre as minhas locubrações - DEIXAR DE COMUNICAR É LIXADO!!!
(fim da parte I)

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Julho


(Azenhas-do-Mar, Jan.2006)

...estou afinal completamente perdido
numa noite sem estrelas.
Secura no sentimento,
amargura no pensamento,
estou perto de me conhecer
e não sei quanto, cada vez, mais
longe do mundo.

Luis, 1979

Un beau matin


(Varzea de Colares, manhã de Janeiro)

Tous les soirs
À ma fenêtre
J'y serait
Pour que je regarde
L e beau ciel
Où tu est Maman...

Si par hasard
Il arrivera
Qu'un beau matin
Tu viendras
Me rejoindre
J'aurais ?a te dire
Un tas de choses
Dans tes bras...

Tons fils, Maman,
A un secret...
Il veut te le dire,
Il veut que tu saches
Qu'il a un secret...

Écoute, Maman
T'en souvien-tu?
J'étais un garçon
Quand tu est partie
Il y a longtemps
Que tu est partie.
Et pourtant,
Depuis ce temps
J'ais toujours grandi.
Je suis devenu un homme
Je n'ais pas changé,
Il n'y a que le corps
Qui a augmenté.

(Almada Negreiros, 1920)

domingo, janeiro 22, 2006

neste momento


(Vale de Colares, Serra de Sintra ao entardecer)

Vou-me deitar, vou dormir embalado,


"Na idéia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,"
sem mais nada em que pensar... apenas existir.

(Eu e Álvaro de Campos)

Malta das Naus


(Chafariz Real, Paço-de-Arcos)

Poema da malta das naus

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.


(António Gedeão)

Azulinho


(Foz do Tejo, Caxias)

O Céu

Ó meu céu que és tão lindo
com essa
vestimenta azulinho claro!
que tu gosta tanto de mim
ó meu céu
da cor dos olhos da minha Mãe.

(José Telmo, 8 anos)

sexta-feira, janeiro 20, 2006

a Professora


(Escola Primária, Azenhas-do-Mar)

Poema à professora

Conheço-te há três anos
Chamo-te Maria ou Pássaro Azul
e dou-te este poema solitário
numa noite de origens e de rosas.
O teu cabelo é paisagem verde
os teus olhos são a luz do mundo
o teu rosto é a minha saudade.
A escuridão é abundante dos que sofrem
e como tu
ninguém tem o coração mais dentro do peito
a sofrer, a sofrer por nós
que somos teus irmãos.


(Víctor Figueiredo, 9 anos)

Regressar


(Barra do Tejo, Paço-de-Arcos)

É bom regressar numa manhã clara

Manhã clara
límpida e fresca
andorinhas
fazem o ar mais fresco
barcos
vão-e-vêm
como o senhor mar
que vento tão suave
neste momento
tristeza acabou-se
para dar lugar à alegria
que vem baloiçando
baloiçando
ao sabor das ondinhas
claras e frescas
como esta manhã

(António Joaquim, 9 anos)

Portugal par coeur


Le Portugal se trouve là-bas, dans un endroit
du Sud-Ouest de l'Europe le plus éloigné de Paris.
Le Portugal est le dernier coeur Européen avant la Mer.

Nous avons tous les fleuves dont nous avions besoin.
Le taje en est le plus grand: il est né en Espagne,
comme d'autres, mais il n'a voulu y rester.

Nous avons aussi des vendeuse de poisson
qui vont dans les rues comme des bateaux sur Mer.
- Elles ont le goût du sel. Dans leurs panniers
elles portent la Mer.

(Histoire du Portugal par Coeur)

Transparente


(Foz do Tejo, Caxias)

As pessoas podem ver através de mim sem me ver.

Já não estou embaciado, estou de novo transparente como um vidro.
É costume já estou habituado, mas às vezes fico turvo e então, dou nas vistas - aparece um Eu. Um dos que Eu sou, porque não sou só um Eu, não sei quantos Eu sou.
Amanhã, talvez eu explique melhor, se me lembrar de voltar ao assunto.
Por agora vou dormir, preciso descansar, de 4 horas e 30 kms de deambulação fotociclista pela foz do Tejo, de Algés até Carcavelos e volta - muito bom, belo dia de sol, de rio-mar-céu azul.
Só agora me lembro que NÃO PENSEI, nada mesmo nada, durante toda a tarde, desliguei o tudo por dentro e fiquei só com os sentidos de fora.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Barra do Tejo


Lisboa, o Tejo e tudo, hoje ao fim da tarde, regresso ao normal.

Alternativas


  • Qual a solução para o dilema "Preso por ter cão e preso por não ter cão"?
  • Qual a alternativa para a parábola "O velho, o Rapaz e o Burro"?
  • Qual a saída possível para escapar ao "Processo de Kafkiano"?

Já sei, pois claro, está visto que tudo isto não passa de um monte de suposições, ideias parvas que estão a invadir a minha consciência. Pode ser, mas... que porra, de onde é que elas vieram? E porque vieram? Essas coisas não caiem do céu! Será isto o princípio de uma fatal desorientação ou dissociação psico-social galopante, ou os prodromos de uma doença mental eminente?
Pode ser uma vulgar psicose ou uma neurose, que um qualquer psicólogo (ou até talvez um psiquiatra) consegue identificar sem hesitação. Depois de um bocadinho de introspecção, reflexão e consulta dos manuais da especialidade, o diagnóstico mais provável aponta para uma dissociação que se encontra numa fase de agravamento.
Cá p'ra mim trata-se de uma afecção, conhecida como "Perturbação Maníaco-depressiva", cada dia mais disseminada no seio desta nossa "civilação global" em que a solidão é a contradição.
Quanto à etiologia, tudo aponta para o que é mais frequente, os vulgares problemas afectivos mal resolvidos. O resultado de um lento acumular de emoções não expressas exteriormente. Aos poucos, o "depósito vai enchendo" até que chega a um nível de concentração tal que torna impossível a coexistência pacífica das emoções enclausuras.
A partir de certo ponto, desencadeiam-se os inevitáveis conflitos interiores, que varrem o subconsciente como um tornado, arrastando para a consciência todo o lixo, tudo o que há de pior á superfície do planeta - o pensamento, o raciocínio, aquilo que, dizem (os entendidos), distingue o homem da besta. Um ser racional descontrolado é mil vezes mais perigoso que o mais selvagem predador da terra ou do mar.
Quando a razão, é subjugada por conflitos internos - frustações, de sentimentos recalcados, processos de atracção-repulsa pendentes - a mente completa entra em estado de guerra. A mais destruidora das guerras é a Guerra Civil. Dentro desta Nação que é a minha mente decorrem batalhas fratricidas entre os Estados que a compõem (ou decompõem), o consciente, o subconsciente, o inconsciente, as emoções, a afectividade, os instintos e... sei lá que mais.
E depois, num conflito interno, a ingerência externa (amigos, companheiros, familiares, conselheiros, médicos) é bem recebida por uma facção, mas pode ser combatida por outras, originando por vezes "mal entendidos" que podem acabar por se transformar num futuro "mal estar" de relacões.
Quando esta guerra terminar (pois de algum modo terá um fim), não sei quem terá capacidade para avaliar os estragos e preparar a recuperação, no caso de subsistir, física ou psiquicamente, recuperação possível.

(razão, tinha o Mestre Almada...)

Alpendre



Depois duma merda duma noite,
só me resta embrulhar no sofá
junto à lareira e esperar
a trampa que com o novo dia virá.

(nem sequer rima, porque o autor se está cagando, Bicho Solitário)

Blue Sunshine



A little more sunshine - I would be live coal.
A little more of blue - I would be beyond time.
To reach it, lacked a wing blow to my soul...
If only I could remain inside this mind of mine...

(my free translation to English of a little poem of Mário de Sá Carneiro)

Homem de Mulher


Quis-te tanto que gostei de mim!
Tu eras a que não serás sem mim!
Vivias de eu viver em ti
e mataste a vida que te dei
por não seres como eu te queria.
Eu vivia em ti o que em ti eu via.
E aquela que não será sem mim
tu viste-a como eu
e talvez para ti também
a única mulher que eu vi!

(Almada Negreiros)

- o título original deste poema é pesado: "Homem carregando cadáver de mulher nos ombros"

Sem rumo


Poderia atravessar o Rio Lethes e esquecer...
Apenas rejeitar as memórias do que já vivi
e não pensar no que ainda me falta viver.

Somente o escrever destas linhas
desanuvia os pensamentos negros
da parte lúguebre da minha imaginação,
quando a mente começa a ficar obcecada.

Não posso gritar, não consigo soltar a raiva,
a angústia é galopante, fico parado no tempo
e o tempo em meu redor desenrola imagens
acelerando numa espiral vertiginosa.

E tenho tonturas, já bebi mais do que devia.
A garrafa ainda não está vazia e vou continuar,
Se ficar mal disposto, o remédio é vomitar.
Pode ser que assim, adormeça... e esqueça.

Chiça! Sinto-me encurralado, transtornado
de tal maneira que não sei se ainda estou vivo.
O que sinto é o puro ostracismo, a segregação,
Um ódio e desprezo misturado com vingança
pelo que eu não fiz ou que fiz mal, pensando bem.

E vou continuar a não perceber o que é que ando a fazer por aqui,
para além de ajudar mais alguém a viver, ou somente a sobreviver.
Eu queria fazer parte integrante de uma sociedade, de uma família,
ter direito à minha dose de imbecilidade normal como todos os outros.
Está escrito na Constituição, eu tenho os mesmo direitos e deveres.
Os deveres, puta que pariu, não quero mais, não aguento mais,
não quero mais, já cumpri todos os que consegui e os restantes...
os que ficaram por fazer, passaram a ser considerados prazer.

É simples, fazer o que for preciso fazer, mas com algum prazer.
Como é? Não serve! Não pode ser! Assim não vale! Viver sem sofrer?
Não podes fazer a tua vida sem mostrar que é um sofrimento constante,
Uma luta inglória para aclcançar coisa nenhuma, chegar a lado nenhum.

Puta de vida que já não é minha.
Há muito tempo que passei a viver pela vida de outrem.
Agora, o remédio é muito doloroso, pior que deixar de fumar.
Apaixonado, depois viciado no amor e finalmente aprisionado.
Estou como um condenado terminal a quem concedem a precária
mas nunca conseguirá a liberdade condicional - só a liberdade final.

Se eu atravessar o Rio Lethes (Lima) não sei se vou conseguir voltar!?
(Acreditem, não fora este blog e eu já estaria a caminho de outra vida. Eu digo "de outra", não "da outra", porque para essa outra, o caminho é sempre a descer, não é preciso esforço para lá chegar.)

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Outro Pessoa em Lisboa


Chamar-te a ti, Lisboa, camarada,
e depois, eu sei lá, enlouquecer.
Que a loucura é quase um grão de nada
e tu tens um nome de mulher.

Ou dizer que és a minha namorada.
Devagar. Não vá alguém saber
que fizemos amor de madrugada
e tu trazes um filho por nascer.

Se eu inventar de noite a liberdade
de poder beijar-te os olhos e morrer,
no teu ventre não há fado nem saudade
mas apenas os filhos que eu fizer.

E pode ser que eu guarde a tempestade
de ter que aqui ficar. E então dizer
que sobre a minha boca ninguém há-de
pôr rosas de silêncio, se eu quiser.

(Joaquim Pessoa)

Felicidade



O que me interessa não é a felicidade de todos os homens, mas sim a de cada um.

(Boris Vian)

Soleil plus Bleu


(Praias Pequena e Grande, Jan.2006)

Un plus peu du soleil - je serais phase de charbon de bois.
Un plus peu du bleu - je serais au delà lointain.
Pour l’atteindre, a manqué un coup d'aile à moi…
Si au moins je pourrais rester ici tout le temps...

(voilà mon essaye de traduction, pour le Français, du plus petit poème de Mário Sá Carneiro)

terça-feira, janeiro 17, 2006

Lisboa noutro Pessoa


(Rio Tejo, Lisboa, Dez.2005)

Lisboa tem um vestido azul feito de mar e guerra.
E cheira a laranjas maduras.

Quando as gaivotas trazem no bico
os primeiros pedaços de sol para acender o dia,
Lisboa deixa correr os cabelos pelo Tejo
e o povo pelas ruas.

À mesma hora, a coragem agita no sangue
duas grandes asas inquietas.

Por todas as janelas destruídas, já o mar entrou,
derrubando acácias,
cantando hinos de espuma

E porque toda a coragem é necessária,
toda a esperança é legítima.

(Joaquim Pessoa)

Sol mais Azul


(foto de Miama; duna do "Tholos" na Praia das Maçãs)

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

(Mário de Sá Carneiro)

Janela para ver (1)


(Foto do Quim; Janela de Mar; Azenhas do Mar de Portugal)

Cem anos que eu viva não posso esquecer
Aquele navio que eu vi naufragar
Na boca da Barra tentando perder-me
E aquela janela virada pró mar

Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p´lo mar fora com alma a sangrar
Levando na ideia os lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar
---
(Tristão da Silva)

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Qualquer dia


(Vila Nova de Milfontes e Nana Mouskouri)

Un jour tu verras, on se rencontrera
Quelque part n'importe où, guidé par le hasard
Nous nous regarderons et nous nous sourirons
Et la main dans la main, par les rues nous irons

Le temps passe si vite
Le soir cachera bien
Nos cœurs, ces deux voleurs
Qui gardent le bonheur
Puis nous arriverons
Sur une place grise
Où les pavés seront
Doux à nos âmes grises...

(Para a Maria João, que não reencontro há muitos anos)

Boa Zona


The mind can also be an erogenous zone.

Quem havia de dizer!? (Raquel Welch)

domingo, janeiro 15, 2006

Gigi de Aquilino


O Ju diz que prefere os Contos da Montanha.
Mas, eu também gosto muito de ler um conterrâneo (quiçá parente afastado) do Ju, o grande romancista Aquilino Ribeiro, cujo "best seller", "Quando os Lobos Uivam", esteve proibido pela censura do Estado Novo.
Por acaso hoje ao começar a ler "O Homem que Matou o Diabo" e achei piada à dedicatória, que começa assim:

À Gigi
Se não fora a luz dos teus olhos, porventura o embrião deste livro - El hombre que mató al diablo - mirrava no idioma em que viu a estampa.
etc., etc...
Baiona, Fev. 1930

Gigi, foi a 2ª mulher do Mestre Aquilino, D. Jerónima Dantas Machado, filha do Presidente da República, Bernardino Machado.
(interessante, não é?)

a Ribeira

Daqui para a minha terra,
Tudo é caminho e chão!
Tudo são cravos e rosas,
Oh, meu lindo amor,
Plantadas p’la minha mão!

Não quero que vás à monda,
Nem à ribeira lavar,
Só quero que me acompanhes,
No dia em que m’eu casar!
No dia em que m’eu casar,
Hás-de ser minha madrinha,
Não quero que vás à monda,
Nem à ribeira sózinha!


Dizem que o chorar tira,
As mágoas ao coração!
Eu chorei um ano a fio,
Oh, meu lindo amor,
As mágoas inda cá estão!


Para a Maria e para o Quim, que mais apreciam os montes.
Lago e barragem de Pisões no Alto Tâmega, junto à nescente, em terras do Barroso, Trás-os-Montes. Esta região do interior Norte, juntamente com o Alto Alentejo, fazem parte dos meus locais de preferência no Portugal das paisagens preservadas.
Só tem um problema difícil de resolver, para mim, ficam muito longe do Mar.

sábado, janeiro 14, 2006

um Chapéu


Maria da Conceição
Vi-te ontem na procissão
E nem quis crer no que via.
Maria da Conceição
Um chapéu nessa cabeça?
---
Ou tu perdeste a cabeça...
Ou..?

Gostava de saber, queria me lembrar mas não sei mais. O Chico Luís, sabia dizer muito bem este poema, e tentou declamar durante o Encontro do dia 7 em Arganil, mas também esqueceu uma parte. Penso que ouvi pela primeira vez, dito pelo João Vilaret ou terá sido pelo Mário Viegas?
Também não sei quem é o autor.

o Olhar da Casa


On aura une maison avec des tas de fenêtres, avec presque pas d'mur et qu'on vivra dedans, qu'il fera bon y être, et que si c'est pas sûr, c'est tout d'même peut-être
(Jacques Brel)

Não sei bem traduzir o poema, mas acho que fica bem com esta casa em ruínas, excelente para reconstruir, junto ao local preferido dos pescadores - o Bico da Messe.
Ela resiste há tantos anos ao vento, à chuva, ao sol, à água salgada, à maresia, às vibrações provocadas pela força das ondas na parede da falésia por baixo dela e pelos autocarros que passam na estrada mesmo a raspar as paredes.
Abandonada. Ninguém olha por ela, literalmente, ninguém olha para o mar através das suas janelas, ninguém olha o por do sol do lado de dentro das suas janelas.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Acordo de Pesca


(Praia das Maçãs, 10 Jan. 2006)

OK - eu desenho e vou para a pesca enquanto a Maria, pinta.

Desisto


Os barcos ficram tortos, as cores ficaram merdosas, arede de pesca ficou mal colada - é caso para dizer: NÃO PESCO NADA DISTO.
Lá vou desenhando umas coisas, mas quanto a pintar... tá quieto.
Desde 1981 que ando a tentar fazer deste quadro uma coisa que se veja, mas ainda não vai ser desta vez - na fotografia fica mais ou menos, mas no real, bahh.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Sem Palavras


Praia das Maçãs.
Hoje à tarde, 17:30 - e o fotociclista estava lá!

Não preciso dizer mais.

Pensamento


Mas eu, ainda, penso! Pois, talvez..? por isso, tenho estado a pensar, para tentar descobrir o que é que estaria a pensar o mestre Almada Negreiros, quando escreveu o seguinte pensamento:

"O Pensamento é o Cancro da Humanidade".

terça-feira, janeiro 10, 2006

Gigi Lamoroso


...
Arriva, Gigi l'Amoroso
Croqueur d'amour, l'œil de velours comme une caresse
Gigi l'Amoroso
Toujours vainqueur, parfois sans cœur
Mais jamais sans tendresse
Partout, c'était la fête quand il chantait
Zaza, luna caprese, o sole mio
Gigi Giuseppe
-
Mais tout le monde l'appelait Gigi l'Amour
Et les femmes étaient folles de lui, toutes...

(Dalida, 1970)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Gigi em Bruxelas


(mercie - obrigado Cristina - par ce foto la)

Il pleut sur le «Jas», les pierres entrent en sommeil.
Il pleut sur le jardin aux couleurs mordorées,
et mangée de rouille la table de fer forgée.
S’endorment les roses en attente de l’éveil.

Un souffle de vent d’automne effeuille un livre,
Baudelaire et ses spleens sous les feuilles oublié,
au vieux chêne livré, jusqu’au prochain été,
sous d’autres cieux la vie son cours va poursuivre.

A bientôt, peut être. Toutes ces choses qu’on se dit,
tant d’autres qu’avouent regards et gestes ,
se lient, se mêlent, passionnément funestes.
Reviendrons les amants, là où règne l’oubli

(Gigi)

Je ne suis pas l'auteur de la poésie.
Ça c'est Poésie Bric A Brac de Gigi, d'autre Gigi autant que moi.

Despertar


Passagem pela Serra do Montejunto)

Diz a Cristina que disse a Sylvie 2004,
"C'est l'heure de se réveiller!!!
tango qui tourne trop bien
un tango argentin qu'on voudrait sans fin
tango sans lendemain c'est déja demain..."

Pois, eu acho que ainda não despertei para o 2006.
Passaram já 9 dias (pelo calendário) e eu ainda não percebo muito bem se já estou aqui ou ainda estou em 1990 a sonhar com a vida no longínquo Século XXI.
Pressinto que está na hora de acordar!!!
Mas não tenho a certeza se me apetece viver este século.
Por todas as teorias filosóficas de que tenho conhecimento, parece inevitável o curso do tempo, o fim do séc. XX e o fim de uma Era. Pelo que dizem, o 2º milénio está aí, mas... atenção, não veio para ficar, veio para continuar, a roda do tempo não pode parar e a velocidade é cada vez maior. Eu ainda não decidi onde é que quero estar... vou voltar a tomar os comprimidos para não pensar.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Realizar


Escultura por Herbert Pagani.

(para Woody Allen)
- o tal que disse, entre muitas outras parvoíces, a seguinte máxima:
Vale mais realisar um desejo do que desejar tê-lo feito.

Mieux vaut réaliser son souhait que souhaiter l'avoir fait.
Is better to carry out its wish than to wish to have done it.

Poema Esquecido

Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...