Desta vez foi o Fotociclista, o apanhado.
Há sempre um fotógrafo malandreco!
Apesar dos olhos mal abertos, ainda consegui vislumbrar esta curiosoa e rara formação cristalina, incrustada num dos blocos de pedra da muralha de suporte da Estrada Marginal, em Caxias.
Trata-se de uma Ágata, por sinal, um tanto ou quanto valiosa - até me admiro que ainda ninguém tenha tentado retirá-la dali;
bem, com um escopro e martelo, dava muito trabalho e dava muito nas vistas - o mais natural era alguem chamar a polícia;
pois claro, não se pode fazer buracos, assim sem mais nem menos, impunemente, na muralha de protecção da marginal;
e depois, o valor da coisa, às tantas nem compensava o trabalho...
Que podemos acrescentar a esta obra?
Que tem pouca utilidade, porque a "Água imprópria para beber".
Que é uma perfeita apologia ao gosto do dono, fruto da falta de jeito ou falta de sentido estético ou falta de orientação ou falta de interesse da hierarquia, que encomendou o trabalhinho ao pacato cantoneiro da Câmara Municipal ou da Junta de Freguesia.
Na vasta colónia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente.
«Cada um de nós é vários, é muitos, é uma prolixidade de si mesmos.»
Tenho por intuição que para as criaturas como eu nenhuma circunstância material pode ser propícia, nenhum caso da vida ter uma solução favorável. Se já por outras razões me afasto da vida, esta contribui também para que eu me afaste.
- Aquelas somas de factos que, para os homens vulgares, inevitabilizariam o êxito, têm, quando me dizem respeito, um outro resultado qualquer, inesperado e adverso.
Nasce-me, às vezes, desta constatação, uma impressão dolorosa de inimizade divina.
- Parece-me que só por um ajeitar consciente dos factos, de modo a que me sejam maléficos, a série de desastres, que define a minha vida, me poderia ter acontecido.
Sei de sobra que o meu maior esforço não logra o conseguimento que noutros teria. Por isso me abandono à sorte, sem esperar muito dela. Não sei até que ponto consigo qualquer coisa. Não sei até que ponto qualquer coisa se pode conseguir...
- Onde um outro venceria, não pelo seu esforço, mas por uma inevitabilidade das coisas, eu nem por essa inevitabilidade, nem por esse esforço, venço ou venceria.
A solidão, o isolamento, a distância dos hábitos humanos, que os eremitas buscavam nas paragens mais inóspitas, como esta no cimo de uma agreste montanha, favorecia a meditação e a comunicação com Deus.
Mais longe dos homens, mais perto do céu, mais próximo de Deus.
Partilhando o mesmo espaço, hoje, são as antenas de rádio e televisão que elegem o cume dos altos montes como lugar privilegiado para combater a solidão, através do favorecimento das comunicações à distância entre os homens.
Tudo o que foi, não mais existe; ou existe exactamente tanto quanto aquilo que nunca foi. Mas tudo o que existe, no próximo momento, já foi - ou já era.
Por consequência, qualquer coisa pertencente ao presente, independentemente de quão fútil possa ser, neste momento, é superior a algo importante pertencente ao passado; ou seja, «o presente, por muito insignificante que possa parecer, é sempre mais importante que qualquer passado».
Isto porque o primeiro é uma realidade (existe) e por isso, está para o segundo (já foi) como algo está para nada; e a razão entre algo e nada é alguma coisa infinitamente grande ou infinitamente pequena.
Desde a sua construção (entre 1222 e 1355), estas janelas com vista para o Claustro do Convento de São Francisco, suportaram três terremotos: 1531, 1755 e 1969.
É provável que venham a resistir ao próximo, que seguindo a lógica aritmética terá lugar em [1297 + 234 => 1531 + 224 => 1755 + 214 => 1969 + 204 =>] 2173, isto se até lá não forem arrasdos por alguma Ogiva Nuclear..!
que compõem os "ENSAIOS E INSTANTÂNEOS DE IMAGEM E ESCRITA DE UM VIAJANTE MONTADO NAS RODAS DO TEMPO - O FOTOCICLISTA".poesia desencontrada
histórias de enganar
quadrinhas populares
pensamentos cruzados
dramas da vida airada
odes de faca e alguidar
tragédias invulgares
sentimentos desgarrados
Isso quer dizer, que, daqui a uns dias eu vou com o meu filho à floresta da Serra de Sintra apanhar Algas Verdes para compor o Presépio de Natal. Ora nem mais. E quando o Guarda Florestal, nos vier perguntar,
«Alto lá, o que é que levam aí dentro desse caixote?»
Estão a imaginar, a resposta,
«São Algas, Senhor... e da divisão das Clorofitas!»
farto de estar aqui sozinho a escrever e a pensar
a pensar o que vou escrever para não pensar que estou aqui sem mais nada para fazer que não seja pensar e escrever
e ficar a ver o resto da vida a passar
e o tempo lá fora a correr no ecran da minha janela p'rá rua, para a vida, a vida dos outros que seguem o seu destino perseguindo a esperança de vida que lhes acena do futuro
eu, só tenho o tempo, muito tempo passado, muito tempo parado... a pensar, a olhar o tempo que faz lá fora, na rua, no ar - o vento, a chuva que não vem, o sol, o luar, a agitação do mar
mas eu vou continuar e o tempo não vai parar
mas porque é que há-de ser assim?
e quando tudo for como já foi e nada mais for igual ao que era dantes, então tudo voltará a ser como nunca foi!
Praia Grande, Sintra Ao captar esta imagem, criei uma poesia. Decerto, inebriado por um momento de solidão, em que me senti inserido na pai...