Recem-chegado lá em baixo, no fundo, caído, de imediato me levantei e... não, não foi assim.
Apenas me soergui e passei o olhar em redor - não vi mais perigos, não vi mais ninguém. Pudera! Claro que não iria encontrar ninguém, por ali. Era tão lá em baixo, era o fundo.
O fundo de quê? O fundo do tempo, da vida, do pensamento, pois então.
Ah, bem! Entendido, continuamos.
Levantei um pouco mais a cabeça e vi uma sombra colada à parede. Era apenas um vulto, não mais do que um baixo-relevo num muro, de onde brotava poesia:
"Selvagem por entre as sedosas pétalas
que guardam o delicioso licor, prometido
e anunciado por um enebriante aroma
que precede a conquista e a entrega."
Num esforço mais que sobrehumano, talvez mesmo sobrenatural, com a ajuda do meu outro eu, consegui balbuciar, numa tentativa fruste de reafirmação:
"Eu... estou aqui!
Se não me ouvirem,
se não me atenderem,
eu vou partir, ficando,
sem sair daqui para fora.
Parado no tempo, passando
- à margem de certa maneira
como disse o poeta e cantor de Abril,
José Mario Branco - fora do tempo."
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