quarta-feira, janeiro 28, 2009

as horas vazias


Livro do Desassossego [3]

«Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar.
Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!»


(Bernardo Soares, 1914)

1 comentário:

Carla D'elvas disse...

MÁGICO :)

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Fragmento 47


No desalino triste das minhas emoções confusas...
Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúnçias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações - áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições, como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emarenha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas.


Bernardo Soares

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Bela foto :)

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